É um daqueles livros que está impregnado do espírito Vitoriano, na mesma linha do imaginário de gente tão ilustre quanto Shirley Jackson ou Susan Hill, ideal para deixar o leitor com os pêlos dos braços eriçados. Escrito por Laura Purcell, autora britânica e antiga livreira, “Companhia Silenciosa” (Topseller, 2019) é um bem-sucedido romance de terror gótico, vencedor do prémio Thumping Good Read da WHSmith, finalista do prémio Glass Bell, da Goldsboro Books, e seleccionado para o clube de leitura de Zoe Ball e da Radio 2.
O início da história tem lugar no Hospital de St. Joseph, onde à Sra. Bainbridge, afastada à força do mundo por ter sido tomada pela loucura e tendo em cima a acusação de assassina por fogo posto, parecem restar apenas três opções de vida: “Não dizer nada e ser considerada culpada; destino: a forca. Não dizer nada e, por milagre, ser ilibada; destino: o mundo frio e duro lá fora, sem medicamentos que a ajudassem a esquecer. Restava-lhe só uma escolha: a verdade. Mas qual era a verdade?“.
Será o Dr. Sheperd, o novo e muito prestável médico, que fará com com que Elsie conte a sua rocambolesca história, que teve lugar no ano de 1865, quando se mudou para a antiga propriedade do marido – de quem então enviuvou -, a isolada e decrépita The Bridge.
Elsie era uma viúva que queria ser alegre mas que, movida por condutas sociais, acabou por optar pela reclusão, longe da tão desejada Londres, à espera de dar à luz. Acabou por levar atrás Sarah, a prima do marido morto de quem não tem a melhor das impressões. Joylon, o irmão de Elsie, apenas aparece para picar o ponto, regressando para gerir a fábrica de fósforos, da qual ele e Elsie são proprietários. Para complicar tudo isto, está rodeada de criados ressentidos e aldeões que não a vêem com bons olhos.
Logo à chegada, a descrição feita à distância de The Bridge por Elsie tem o ar de uma premonição da desgraça: “Vi um edifício baixo, de estilo jacobino, com três espigões no telhado, um zimbório central e chaminés de tijolo vermelho a espreitarem por trás. A hera saía das fendas e envolvia os torreões, de cada lado da casa. The Bridge parecia morta“.
Toda a aldeia parece ter medo de The Bridge, correndo a história de que um esqueleto terá sido desenterrado no seu jardim nos tempos do Rei Jorge. Mas as coisas começam verdadeiramente a aquecer quando Elsie começa a ouvir “um ruído áspero, como uma serra na madeira“, que acaba por conduzi-la à porta do sótão, com uma fechadura para a qual parece não ter sido feita uma chave.
Pouco depois, Elsie encontra uma figura em madeira, uma pintura de uma menina de 9 ou 10 anos que parece ser ela própria. “Elsie estava a fitar o rosto da criança que havia sido: a menina com a sua juventude roubada“, algo que não era nem uma estátua nem uma pintura, mas sim uma mistura de ambas. Todos parecem ter medo da figura excepto Elsie, mas quando outras figuras começam a aparecer, as “companhias silenciosas“, mudando sozinhas de lugar e com olhos malignos que parecem segui-la para todo o lado, o medo começa a instalar-se, “aquele medo muito antigo“, fruto do lugar, das gentes e da mente.
A par destas duas histórias que decorrem em tempos distintos, há ainda excertos de um diário escrito em 1635, por alguém que também habitou The Bridge e que, tal como Elsie, parece ter sido levada à loucura. Três linhas temporais que, quando completas, ajudam a criar um romance de uma atmosfera inquietante. Uma coisa é certa. Depois disto, o leitor nunca mais irá olhar para aquelas bonecas de louça da mesma forma. Um bom livro para ler à noite, depois de o silêncio se ter já instalado. Se precisar de uma luz de presença depois disso, caro leitor, ninguém irá levar a mal.
2 Commentários
Olá! Onde foi que você conseguiu esse livro? Estou tentando comprar e não acho em parte alguma D:
Olá, Betina. Experimente comprar numa livraria online portuguesa, como a Wook, a Fnac ou mesmo através da editora do livro.