Quem diria que, chegados a Março de 2025, este pequeno livro de Quinto Túlio Cícero, escrito sessenta e quatro anos antes do nascimento de Cristo, se tornaria num livro de cabeceira de muito boa cama portuguesa, à boleia de imprevistas e consecutivas eleições?
Não deixa de ser engraçado que, em dias onde se discute a quem atribuir a culpa pela queda do governo, este livro também tenha sido, há muitas vidas atrás, alvo de um aceso debate, tentando apurar qual dos irmãos o havia escrevinhado: se Marco Túlio Cícero, o maior orador de Roma que em dado momento se candidatou ao cargo de cônsul – o mais elevado da República -; ou, em alternativa, o seu mais pragmático irmão Quinto. Alguns especialistas em literatura ainda colocaram em causa a autoria de Cícero ou do irmão deste, preferindo atribuí-la a um seu contemporâneo ou a um cidadão romano do século seguinte, mas a verdade é que foi Quinto a ver o seu nome impresso na capa.

Segundo fontes (mais ou menos) oficiais, Quinto decidiu, perante aquela que se desenhava como uma feroz campanha, que o irmão mais velho precisava dos seus conselhos, tentando refrear um temperamento que todos achavam tender para a agressividade – e, com o devido balanço, para a crueldade. “No início da campanha eleitoral para o Consulado, Quinto escreveu a Marco um opúsculo com um curto apontamento sobre propaganda eleitoral, sob a forma de carta”, que acabou por resultar, graças ao jogo editorial, neste “Como Ganhar Eleições” (Gradiva, 2015).
Autorias à parte, “Como Ganhar Eleições” mostra um pragmatismo sem vergonha na arte da manipulação, piscando o olho sempre que preciso a tácticas baixas e com tendência para causar alguma sujidade. Entre os vários e sucintos conselhos, fala-se em recolher o apoio familiar e de amigos, estar rodeado das pessoas certas, cobrar todos os favores devidos, construir uma ampla base de apoio ou, imagine-se, prometer tudo a toda a gente, mesmo que depois se tenha de pedir desculpa pelos incumprimentos. Um pequeno livro que nos mostra que, nisto da política, as regras parecem pouco ter mudado desde que Quinto levou o seu irmão ao consulado de Roma.
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