Charlie Chamariz, McGuffin de família, era um rapaz com um dom muito particular. Não uma daquelas habilidades que nos permite ser o melhor do mundo a praticar um qualquer desporto, ou sequer um desvio sensorial que propicia uma animada conversa com espíritos e fantasmas. Apesar de terreno, o dom de Charlie seria capaz de fazer com que David Attenborough se mordesse todo de inveja: conseguia transformar-se num animal qualquer, ainda que o aspecto e os timings da transformação pertencessem sempre ao acaso.
Como qualquer rapaz inseguro e sensível, Charlie atrás de si um miúdo a dar para o parvo que insiste em implicar com ele, mas também amigos que o vão tentar ajudar a lidar com um superpoder que não é, necessariamente, o mesmo que voar numa prancha, viajar pela cidade de teia para teia ou ler o pensamento alheio sem dar bandeira. O que acontecerá, por exemplo, se durante a peça de teatro da escola se transformar numa pomba ou, pior ainda, numa ratazana?
O irmão de Charlie está no hospital, o que não impede que, mesmo assim, Charlie leve umas valentes sovas a jogar ao FIFA. Os pais estão desolados, mas Charlie, um puto que adora ler sobre vulcões, é um verdadeiro optimista, até mesmo quando se vê transformado numa assustadora aranha – ele que, como quase toda a gente, tem um medo delas difícil de explicar.
Com muito humor e várias mensagens importantes nas entrelinhas, “Charlie Transforma-se Numa Galinha” (Nuvem de Letras, 2019) viaja entre a ternura e o riso parvo, mostrando como poderemos ajudar a controlar a ansiedade e a manter a confiança, até mesmo quando tudo parece perdido. Divirtam-se a valer mas tenham cuidado com os rios de cocó de rinoceronte e outras armadilhas.
Segundo reza a biografia, Sam Copeland vive em Londres com dois gatos fedorentos, três crianças pestilentas e uma mulher relativamente bem-cheirosa. É encantador de galinhas e utiliza este dom único para domesticar galinhas selvagens por esse mundo fora. Este é o seu primeiro livro – mas já ameaçou escrever mais.
Sem Comentários