Daniel Silva entrou em cena em 1997, com o desde logo bestseller “The Unlikely Spy“, um romance sobre o amor e a decepção durante a II Grande Guerra Mundial. Nas suas segunda e terceira obras, “A Marca do Assassino” e “A Época dos Desfiles”, tratou de apresentar duas personagens memoráveis: o agente da CIA Michael Osbourne e Jean-Paul Delaroche, um assassino internacional contratado.
Foi, porém, em 2000 que iniciou a série protagonizada por Gabriel Allon, uma combinação de restaurador de arte e agente secreto israelita, e é caso para dizer que desde então mais ninguém o agarrou – ou conseguiu parar a sua invejável publicação anual de histórias de espiões, sempre no topo das preferências de muito boa gente por esse mundo fora.
Embora desde sempre aspirasse a ser escritor, Daniel Silva começou pelo jornalismo. Nascido no Michigan e criado na California, filho de pais açorianos (resolvido o mistério da origem do nome), formou-se em Relações internacionais e começou a colaborar com a UPI (United Press International). Em 1987 foi nomeado correspondente no Médio Oriente e Golfo Pérsico, tendo feito a cobertura da guerra Irão-Iraque e acompanhado bem de perto os diversos conflitos políticos da região. Uma experiência que está bem presente na série Gabriel Allon, cuja narrativa é tecida com uma rede bem apertada pela complexidade dos conflitos mundiais – e em particular do Médio Oriente.
Em “Casa de Espiões” (Harper Collins, 2018), Gabriel Allon regressa ao activo após uma série de atentados terroristas ocorridos em Londres. O seu brilhante planeamento conduz a Saladino, um dos cérebros do ISIS. A história move-se por vários locais, da Córsega (com algumas nuances relativamente à Máfia local) a Saint-Tropez (no seu ambiente luxuriante e excessivo), bem como a vários locais de Marrocos.
A par de Gabriel Allon, o herói supremo, temos outra personagem bem mais extravagante: Christopher Keller, alguém que já esteve dos múltiplos lados da barricada e que dá um colorido fora do tom à história. O elenco conta ainda com muitos espiões, uma deslumbrante ex-modelo britânica ou um traficante francês disfarçado de empresário de sucesso próximo de ministros franceses. Um enredo com muita acção e múltiplas pontas soltas de um novelo de espionagem, associado às relações intrincadas entre os negócios, o enriquecimento e os movimentos estratégicos do terrorismo.
“A Rapariga Nova” (Harper Collins, 2020) começa com o mistério que rodeia a identidade de uma jovem aluna de um exclusivo colégio suiço, passando depois para a Arábia Saudita, onde um príncipe reformista, Khalid bin Mohammed, pretende implementar reformas em várias frentes – a religiosa, os direitos das mulheres, a opulência parasitária da família real. Mas o seu futuro promissor – e bem visto no ocidente – cai por terra, após ter sido implicado no homicídio brutal do jornalista Omar Nawwaf, dissidente saudita, em Istambul. Este último acontecimento foi baseado em factos reais, mais concretamente na morte de Jamal Khashoggi, dissidente saudita e colaborador do Washington Post, que Daniel Silva faz questão de referir no prefácio, dedicando esta obra ainda aos 54 jornalistas assassinados em todo o mundo durante o ano de 2018.
Gabriel Allon, o agora lendário chefe dos Serviços Secretos Israelitas, entra em acção como o único homem em que o príncipe Khalid confia, para o ajudar numa das situações mais dramáticas da sua vida. O melhor espião israelita corresponde, tendo na mira o compromisso da intervenção de Khalid na quebra do vínculo que une a Arábia Saudita e o islamismo radical. A par do suspense próprio do ambiente thrileriano e de espionagem, a componente geo-estratégica e política está sempre presente, domínio que Daniel Silva nunca quer deixar em mãos alheias.
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