“A prática do design gráfico é um exercício de futilidade. Parece que será divertido, mas é apenas um pouco menos agradável do que uma dor de dentes“. As palavras são de John Gall no estranho prefácio a “Bráulio Amado 2016” (Stolen Books, 2017), um livro em formato A4 que reúne uma colecção de quase todos os posters desenhados pelo artista durante o ano passado. Segundo o próprio, apenas ficaram de fora os que eram maus demais ou aqueles dos quais se perderam os ficheiros em alta resolução.
Voltando a John Gall e ao facto de o divertimento ser comido pelo trabalho/emprego, este abre uma excepção para os posters de Bráulio Amado, que descreve como “It’s DIY punk with a sumptuous color palette“.
Tudo começou em finais de 2015, quando a amiga Ana Fernandes o convidou para desenhar os posters para o Good Room, um clube na onda house/techno situado em Brooklyn. Na altura Bráulio Amado estava a trabalhar na revista Bloomberg Businessweek, pelo que os tempos mortos aconteciam normalmente às quintas-feiras, altura em que aproveitava para se dedicar a alguns projectos paralelos.
O método que utilizava para a criação dos posters, não sendo ele um grande seguidor de música electrónica, consistia em ouvir os artistas, (por vezes) partir do nome de uma das suas canções, pensar em algo engraçado e despachar a coisa depressa. “Por vezes demasiado depressa“, brinca Amado na apresentação.
Para lá dos posters internacionais, que incluem promoção a nomes como Explosions in the Sky, Kevin Saunderson, Lindstrøm ou Chairlift, podemos encontrar a passagem dos Marching Church pelos Maus Hábitos, a visita dos Black Mountain ao Musicbox ou, ainda, um cartaz de apoio desenhado para Bernie Saunders.
Com técnicas muito variadas e uma diversificada utilização da cor, muitos dos cartazes necessitam de um olhar mais atento para desvendar sobretudo locais, datas e horários, mas no que diz respeito ao impacto visual são na sua maior parte uma explosão visual para se ficar de queixo caído. Para complementar a edição, a oferta de um poster em formato A2, onde Bráulio desenhou a uma cor um dealer literário de aspecto duvidoso, a vender livros roubados de primeira classe – ou, se preferirem, Stolen Books, a editora responsável pela edição dos seus posters numa edição que faz lembrar uma revista em edição de luxo.
“Não acredito que convenci alguém a editar um livro com o meu trabalho. Mas aconteceu e tenho esperança que consiga fazer algo com isto todos os anos“. Quando 2018 se mostrar, queremos o anuário Bráulio Amado 2017.
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