Professor universitário, ensaísta, conselheiro do governo britânico, crítico cultural, compositor de óperas e autor de inúmeros livros, Roger Scruton foi um dos maiores gigantes da filosofia moderna. Uma das suas áreas de interesse foi a estética, mas também a política e a própria actividade filosófica. Talvez seja o pensador que mais reflectiu sobre o conservadorismo.
“Beleza: Uma Muito Breve Introdução” (Guerra & Paz, 2023) é um livro que, ao longo de nove capítulos, convida o leitor a compreender o conceito de beleza a partir de objectos concretos, ideias, obras de arte, obras da natureza, de animais e dos seres humanos. Este é o ponto de partida mas, pouco a pouco, há um fundamento, um argumento que recorre ao pensamento e às obras de diferentes filósofos, de épocas distintas.
Platão viu a beleza como o objecto do desejo e uma porta de entrada no transcendental. S. Tomás de Aquino viu-a como uma dádiva de Deus. Proust encontrou beleza na palavra escrita. Kant reflectiu sobre os juízos de gosto. Schiller envolveu a arte e o divertimento e alertou-nos que nem sempre o resultado é belo. Manet encontrou beleza no corpo desinibido. Em Tchaikovsky, a beleza vive na música, como por exemplo, na Sexta Sinfonia. Bergman captou o belo através da lente e na arte de filmar. Collingwood alertou-nos que a beleza existe nas formas, na harmonia das linhas e cores. Marcel Duchamp abalou o meio artístico com “A Fonte”, e obrigou-nos a questionar, de novo: o que é a arte? A arte poderá ser emoção, comunicação, sensualidade, arrebatadora, perigosa, perturbante, sagrada, mas também profana e imoral.
Mas, afinal, o que acontece em nós quando somos confrontados pela beleza? Esta é apenas uma das questões que encontramos ao longo desta leitura. Muitas outras interrogações surgem: Porque é belo determinada coisa? Será a beleza subjetiva? Poderemos encontrar objectividade na beleza? Será a beleza universal? Como poderemos julgá-la quando os nossos gostos diferem tanto? Poderá a beleza ser perturbadora? Será sempre inspiradora? O que torna uma pintura, uma sinfonia ou uma paisagem bela? Estará a beleza presente nas pequenas coisas do dia-a-dia? Haverá beleza no raciocínio prático? Qual será o valor da arte? O que é a beleza? Sublime e belo: qual a diferença?
Não estamos perante uma obra para especialistas, com uma linguagem hermética, própria dos filósofos – pelo contrário. Este é um livro para os apaixonados pelas questões estéticas, pelo exercício do questionar e da reflexão. Para todos os apreciam aprofundar perspectivas, partilhar ideias e dialogar, mas também para os que encontram beleza no cruzamento de diferentes tipos de arte e manifestações culturais. Experienciar o belo é uma vivência humana ímpar. Uma emoção singular.
As interrogações são mais fortes. Mais presentes. As respostas vagas, imprecisas e ausentes. No último capítulo, o autor esclarece:”terá notado que eu não disse o que a beleza é”. Roger Scruton reforça a ideia de que a beleza está na nossa vida. Todos desejamos coisas belas. A beleza é uma dimensão do ser, “a beleza está nos olhos daquele que contempla”. O filósofo e ensaísta, por fim, esclarece: “A minha resposta é simplesmente esta: tudo o que disse sobre a experiência de beleza implica que ela tem uma fundação racional. Desafia-nos a encontrar significado no seu objeto, a fazer comparações críticas e a examinar as nossas próprias vidas e emoções à luz do que encontramos”. Um excelente livro para (re)pensar a beleza.
Roger Scruton (27 Fevereiro 1944 – 12 Janeiro 2020) foi um dos mais importantes filósofos britânicos. Doutorado em Filosofia pela Universidade de Cambridge, leccionou na Universidade de Buckingham, onde dirigiu o mestrado em Filosofia, e na Universidade de Oxford. Foi membro do Centro de Ética e Políticas Públicas de Washington, nos Estados Unidos. Em 2016, Isabel II condecorou-o com o título de Knight Bachelor, pelos serviços prestados à filosofia, à docência e ao ensino público.
Tem mais de 50 livros publicados, entre ensaio, ficção e teatro, incluindo as obras “O Ocidente e o Resto”, “Guia de Filosofia para Pessoas Inteligentes”, “Beleza” e “Breve História da Filosofia Moderna”, editados em Portugal pela Guerra e Paz. Fundou a revista de orientação conservadora The Salisbury Review, que editou de 1982 a 2001, e escreveu artigos na imprensa britânica com regularidade.
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