É, depois de “O Homem que Passeia” (ler crítica) e “O Gourmet Solitário” (ler crítica), o terceiro livro de Jiro Taniguchi a integrar a Tsuru, a recomendada colecção de novelas gráficas que conta com o selo da Devir. Em “Bairro Distante” (Devir, 2024), o autor japonês entra num território aparentado à ficção científica, fazendo-nos a pergunta que nos atormenta desde que o Regresso do Futuro passou nos cinemas nos idos anos 1980: e se fosse possível voltar atrás no tempo?
O protagonista dá pelo nome de Hiroshi Nakahara, um homem de meia idade que sente ter perdido, algures no caminho, o rumo. Num dia aparentemente igual aos outros, num momento de pura distracção, entra no comboioi errado, dando por si a regressar ao lugar distante da infância: “Mas porque razão terei eu entrado num comboio que vai para a minha terra natal?”, pergunta-se, enquanto recorda a mãe, que “morreu demasiado jovem”, e o pai, que desapareceu quando Hiroshi andava no 8º ano, como naquelas histórias de alguém que sai para comprar tabaco e nunca mais regressa a casa.
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Depois de visitar a campa da mãe no cemitério, Hiroshi dá por si no seu corpo de adolescente, servindo-se da poesia para lidar com a estranheza do recuo temporal: “Sem saber o que fazer, fiquei parado na esquina de uma cidade que já não existia”. Seguem-se os reencontros com amigos de escola, amores passados ou desejados, com a família antes da fragmentação. Ao saber o que o destino reserva, conseguirá alterar o curso do tempo? E como irá isso afectar o presente quando a ele regressar?
Jiro Taniguchi é um mestre em desmontar o quotidiano, transformando os seus livros de aparência simples em sentimentos universais, convidando o leitor a uma reflexão profunda sobre a sua vida enquanto o convida a realizar pequenas e transformadoras mudanças. “Bairro Distante” levou para casa o Prémio de Angouléme para Melhor Agumento em 2003, tendo sido adaptado ao cinema e ao teatro.
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Jiro Taniguchi nasceu em 1947 na província de Tottori. Leitor de mangá desde a juventudedecidiu em 1969 tornar-se mangaká, mudando-se para Tóquio, onde se tornou assistente do artista Kyota Ishikawa, com quem trabalhou durante cinco anos. Publicou o seu primeiro trabalho, Karete Heya, no início da década de 1970; desenhou alguns mangás eróticos e tornou-se assistente de Kazuo kamimura, um autor famoso no Japão. Decidiu, então, trabalhar por conta própria e associou-se ao argumentista Natsuo Sekigawa, com quem publiocu mangás policiais e de aventura e Botchan no Jidai, a partir de 1987, um panorama da literatura e da política japonesa no período Meiji, em homenagem ao escritor Natsume Soseki. A descoberta da banda desenhada europeia, ainda no final da década de 1970, em especial da linha clara de autores como Hergé ou Moebius, marcou uma reviravolta na obra de Taniguchi, que se traduziria de forma mais concreta quando, a partir de 1991, optou por trabalhar sozinho, escrevendo e desenhando as suas próprias histórias. A partir daí, com raras excepções, a obra do autor japonês regista as suas experiências pessoais e a observação atenta dos seus pares e do quotidiano, retratado através das coisas corriqueiras que o compõem e o tornam, ao mesmo tempo, universal, conferindo-lhe uma imensa credibilidade. Faleceu em 11 de Fevereiro de 2017.
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