No mundo dos comics e das tiras de banda desenhada, reina normalmente o espírito de eternidade, onde cada personagem parece ter descoberto um elixir da juventude que lhe permite manter a mesma aparência e forma física, independentemente do número de calendários que forem virados.
Um desses exemplos é a série Baby Blues, criada pela dupla Robert Kirkman e Jerry Scott na década de 1990, e que chega agora ao número 35. E, se o cansaço é notório nos pais, nem por isso o tempo tem avançado por aí além. Vinte e oito anos depois, as crianças continuam crianças, os cabelos brancos ainda não apareceram e a visão idílica de uma reforma sem trabalhos forçados continua a ser uma miragem.
Em “Bateria Fraca” (Bizâncio, 2018) renovam-se temas e acrescentam-se outros, num livro que tem como linha condutora a energia – ou a falta dela – de Darryl e Wanda Scott, que procuram desesperadamente um carregador que lhes alimente os dínamos existenciais.
Darryl sente na pele a PPE, iniciais para Perturbação de Pai Ansioso; Hammie, que continua exímio em invenções relacionadas com ranho, divide a roupa para lavar entre duas categorias: malcheirosa e nojenta; Wanda designa as pré-adolescentes como “piranhas com soutiens de desporto“; a compra de um barco é substituída por um jantar fora e, quanto à desejada televisão de ecrã plano, vê-se transmutada numa tripla ida ao pediatra; impera a lei dos 5 segundos, actualizam-se os testamentos e escolhe-se um tutor, num livro onde Wanda parece ter estado a ouvir em loop o “Mais vale nunca” dos GNR, não se cansando de repetir: “Ser crescido é horrível“.
Apesar de o humor continuar a níveis bastante aceitáveis, seria castiço ver esta pequenada crescer a um ritmo mais acelerado, oferecendo novos dilemas – e, se possível, um carregador – a dois pais que estão constantemente nas últimas. Por outro lado, se o olharmos como um manual para pais desesperados, destinado a percorrer décadas e a ser passado de mão em mão, é um verdadeiro achado.
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