Parece incrível, mas ainda há quem pense que a Orfeu Negro apenas publica livros para crianças. Para os mais distraídos, recorde-se apenas a publicação da obra do historiador francês Michel Pastoreau, um dos maiores especialistas na simbólica das cores e em heráldica. Depois de “Preto”, chega agora a vez da edição de “Azul” (Orfeu Negro, 2016), sendo de contar que, mais para a frente no calendário, a editora publique também “Verde” e “Vermelho”.
Para Pastoreau, a cor define-se antes de tudo como um facto social, razão para que as cores e a sua aceitação e rejeição tenham mudado consoante as épocas da história. “É a sociedade que “faz” a cor, que lhe dá a sua definição e o seu serviço, que constrói os seus códigos e valores, que organiza as suas práticas e determina as suas implicações, não é o artista nem o académico – e ainda menos o aparelho biológico do ser humano ou o espectáculo da natureza. Os problemas da cor são, em primeiro lugar e sempre, problemas sociais, porque o ser humano não vive sozinho, mas sim em sociedade.”
O livro toma como fio condutor o período que vai do Neolítico até ao séc. XX, mostrando a ascensão e a importância social da cor azul. Se, para os povos da Antiguidade, o azul é uma cor que conta pouco, os romanos acham-na desagradável e mesmo depreciativa, considerando-a a cor dos bárbaros. Era, e continuou a ser durante muito tempo, uma cor que o ser humano reproduziu, fabricou e dominou tarde e com extrema dificuldade.
Depois do ano 1000 (e sobretudo a partir do séc. XIII), o azul deixa de ser uma cor de segundo plano e passa a ser uma cor da moda, até de certa forma aristocrática. Algo que passa a ser visível na Arte, nas imagens religiosas e na heráldica. A partir do século XIV, passa mesmo a competir não apenas com o vermelho como também com o preto. Hoje em dia, o azul é a cor dominante do vestuário ocidental, uma cor consensual.
“Porque, em última análise, quando confessamos que a nossa cor preferida é o azul, o que de facto revelamos de nós próprios? Nada, ou quase nada. É tão banal, tão neutro. Ao passo que confessar uma preferência pelo preto, pelo vermelho ou até pelo verde…”
Azul que, para além do vestuário, se tornou na cor dos hospitais e de um sem-número de instituições: “O azul não agride, não transgride; dá segurança e congrega a cor dos grandes organismos internacionais: a antiga Sociedade das Nações, a ONU, a UNESCO, a União Europeia.” Até mesmo a cor da paz, representada pelos capacetes azuis. São de facto muito grandes as voltas que as cores têm dado na História.
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