Tem sido alvo de estudos, ensaios, debates e controvérsias. Agora, à luz da mais recente historiografia, Christophe Badel, professor de História Romana, lança um novo olhar sobre o fenómeno do imperialismo romano, acompanhando os diferentes ritmos da construção imperialismo, das conquistas militares à Paz romana, do sistema provincial ao desenvolvimento das comunicações e da economia à romanização.
Para Badel, foi o Império Romano que serviu de inspiração aos ideólogos da invasão do Iraque. Uma ideia que é também a do filósofo italiano Toni Negri, antigo ideólogo das Brigadas Vermelhas, ao falar das actuais formas de domínio imperial – entre as quais o Império Americano.
Christophe Badel define, desta forma, o Império Romano: “um Estado de grande dimensão que reúne diversos povos gerados de maneiras diferentes e hierarquizadas, no extremo oposto do Estado-nação, baseado num único povo, habitando o mesmo território e formando a mesma comunidade política”. Para Badel, as recentes mudanças geopolíticas, ligadas à globalização, promoveram o regresso em força dos impérios, levando à necessidade de uma reflexão política e histórica.
De acordo com o autor, o objectivo deste “Atlas do Império Romano” (Guerra & Paz, 2021) não será o de fornecer um panorama do conjunto da civilização romana, mas antes “reflectir sobre a construção imperial romana: a sua formação, a sua gestão e os processos de integração e aculturação que habitualmente designamos por romanização”. E, apesar de ser “difícil aferir se os mapas desempenharam um papel importante na construção e gestão do Império Romano”, eles estão em grande destaque neste Atlas, permitindo um olhar geográfico e panorâmico deste Império que se estendeu entre o período 300 a.C e 200 d.C.
O Atlas está dividido em cinco grandes capítulos: “Rumo ao Império Universal – Séculos III-I a.C.”, onde se fala do Império Romano como o herdeiro do Império de Alexandre Magno. Dois impérios distintos, um construído por um único homem numa dezena de anos, um outro que demorou dois séculos e mobilizou um mundo de gente; “A República Imperial – Séculos III-I a.C.”, onde se aponta a superioridade romana graças ao seu regime político misto: a civitas de Roma associada a elementos monárquicos, aristocráticos e democráticos; “O Principado e a Paz Romana – Séculos I e II d.C., que olha para a implementação, por Augusto, de um regime monárquico original, conciliável com a tradição republicana – “os seus contemporâneos denominaram-no como Principado, mas a posteridade preferiu chamar-lhe Império”; “A Gestão do Império – Séculos I e II d.C.” onde, mais do que gestão, se fala da “exploração fiscal das províncias”, e da importância da estrutura descentralizada do Império, que deixou grande autonomia às civitas, bases da organização territorial; “As faces da Romanização – Séculos I e II d.C”, em que Badel refere que Romanização é uma noção “actualmente bastante criticada, e até mesmo rejeitada, por muitos historiadores”, onde se fala de humanitas como a palavra escolhida pelos romanos para designar este fenómeno, origem etimológica da nossa palavra “humanidade”.
Para cada capítulo, dividido em cores que dá a este Atlas o ar de um dossier bem organizado, há mapas incríveis, um verbatim – onde cabem, por exemplo, citações de Virgílio, Políbio ou Cícero – e, a fechar, uma conclusão que serve de resumo da matéria dada. No final há ainda um glossário, um quadro com todas as dinastias imperiais e orientações bibliográficas, que poderão agradar a quem quiser explorar mais a fundo o Império Romano.
Christophe Badel é professor de História Romana na Universidade Rennes II, em França. Foi vice-presidente da Certificação de Aptidão Pedagógica para o Ensino de História e Geografia (CAPES), de 2006 a 2012, e do concurso para a agregação de professores de História, de 2013 a 2018. É autor ou co-autor de obras como Sources d`histoire romaine, com X. Loriot (1993), Ils ont fait l`histoire du monde (Volume I), com A. Bérenger (2001), Rome – La gloire d`un tardive, com C. S empire, com A. Bérenger (2005), La Noblesse de L`Empire romain – Les masques et la vertu (2005), Lire l`Antiquité (2009) ou Les Stratégies familiales das l`Antiquité tardive, com C. Settipani (2012).
Claire Levasseur concebeu e desenhouos mapas do Atlas do Império Romano. É cartógrafa independente e colabora regularmente com as publicações da editora francesa Autrement, das quais se destacam o Atlas du terrorisme islamite (2017), de Mathieu Guidère, e o Atlas du Moyen-Orient (2019), de Jean-Paul Chagnollaud e Pierre Blanc.
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