Com o selo da Ubisoft, Assassin’s Creed é um dos jogos mais bem-sucedidos de sempre, com uma boa dose de soturnidade, muita sombra, um enquadramento histórico que desce às suas catacumbas e muito, mesmo muito sangue. O sucesso é tanto que o jogo saltou do pequeno ecrã para as páginas dos comics, e “Prova de Fogo” (Goody, 2018), o primeiro volume da nova série lançada pela BDMarvel Goody, mostra que temos aqui uma série com pernas para dar muito bom mortal.
Charlotte De La Cruz leva uma existência aparentemente banal, insatisfeita com o seu trabalho num banco, concorrendo a entrevistas que tendem a acabar mal e tendo como mantra algo parecido a “se existem dias para simplesmente ir para casa, lamber as feridas e embebedar-me, este é um deles“.
Porém, para lá de feridas e copos, Charlotte afoga o stress em jogos virtuais onde é exímia, revelando uma alma de Robin dos Bosques que se irá estender à vida real e ao banco onde trabalha. Algo que irá captar a atenção da Irmandade dos Assassinos, uma entidade secreta envolta numa disputa milenar contra a Ordem dos Templários, que usa o Helix – um sistema onde os níveis dos jogos são feitos de memórias reais – para voltar atrás no tempo, de forma a encontrar “objectos poderosos usados para tentar controlar a sociedade“. A Irmandade, claro está, pretende chegar primeiro a eles, e Charlotte parece ser a peça perfeita para viajar até 1692 e à aldeia de Salem – até porque, segundo dizem, tem o sangue de assassinos.
Charlotte vê-se assim lado a lado com Tom Stoddard, o seu antepassado assassino, um tipo sem noções de ética, moral e humanismo (a lista de coisas más seria a modos que infinita). Ou, como lemos a certa altura, um “assassino, recluso, niilista, o orgulho da família“. Os dois estão à procura de um pedaço do Éden, mas pelo caminho terão o reverendo Samuel Parrid, o acusador, e o juiz William Stoughton, que ordena a forca.
Neste volume iniciático, que irá conduzir a uma epifania pessoal, folheamos o Livro do Diabo e encontramos referências a Dante, sempre com a adrenalina no máximo e um humor que nos chega sobretudo dos lábios de Charlotte, que vai atirando pérolas como esta: “Então, sou uma espécie de ninja puritana?“.
Para além de mostrar o pânico e a histeria dos aterradores Julgamentos das Bruxas de Salem, o livro contém ainda um posfácio, que conta tudo sobre a fundação de Salem, em 1626, por um pequeno grupo de puritanos. “Prova de Fogo” reúne os livros 1-5 de Assassin’s Creed: Trial By Fire.
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