É um daqueles argumentos que não lembraria ao diabo: na Escola Secundária de Kunugigaoka, o professor da turma E é uma criatura aparentada a um polvo que destruiu a lua e, logo a seguir, prometeu obliterar o planeta Tera em Março do ano seguinte. Uma vez que nem o exército o conseguiu matar, o Korosensei tem à cabeça um prémio de 30 mil milhões de ienes, tendo o seu assassinato sido comissionado aos seus alunos, conhecidos como “a turma E de escumalha”. Turma que, com a ajuda de Korosensei, tem conseguido escalar o ranking escolar, registando um crescimento notável em várias disciplinas.
O argumento e os desenhos saíram da imaginação do nipónico Yusei Matsui, que começou a publicar a série na Weekly Shonen Jump em 2012. A verdade é que Assassination Classroom (Devir, 2018/9) é uma das mais incríveis séries mangá deste século, juntando ao enquadramento surrealista um tremendo sentido de humor e a defesa de valores como a ética, a entreajuda ou o espírito de equipa.
No volume 13, o shinigami prepara uma arma letal que quase enterra vivos Karasuma e a professora Bitch. E, se a escola de shinigami assenta num espírito anti-Karaté Kid – “Carnificina. Conhecimento. Combate. Assassinato e uma colecção de belas habilidades” -, já Bitch deixa que uma nuvem negra se debruce sobre si – “O meu quotidiano era um mar de sangue gélido”. No meio de tanta soberba e negrume terá de ser Karasuma a puxar pela cabeça, descobrindo a luz e o ponto de fraco a explorar: “Até um shinigami sofre nos tintins”.
O foco deste volume está, porém, em Shiota Nagisa, aluno da turma E, que regista num caderno todas as fraquezas aparentes de Korosensei. Em casa, porém, sofre de uma relação maternal ao nível do sufoco, de uma mãe que o quer vestir como uma menina – aproveitando o seu cabelo comprido – e o quer retirar da turma E, de modo a prosseguir os estudos na universidade na qual ela não conseguiu entrar. “As suas obsessões são como um instinto assassino”, desabafa Nagisa, mas é a Korosensei, em modo cosplay, que cabem as mais sábias palavras desta crise familiar: “Ele não é um brinquedo para curar os seus complexos”.
Para o final fica o aperitivo que irá tomar conta de quase todo o volume 14: o Festival Escolar, onde as turmas competem por conseguir os maiores lucros nas suas bancas de comida. Apesar de o dinheiro ser doado, os alunos podem incluir a experiência no seu CV quando procurarem emprego, pelo que a competição é deveras feroz.
Aparentemente, a turma A tem tudo para vencer: uma localização central, música ao vivo, patrocinadores de renome e alunos com contactos capazes de ter sempre as mesas sempre cheias. Korosensei, porém, é um verdadeiro mestre da sobrevivência e, mesmo que a turma E tenha o seu estaminé num lugar alto de difícil acesso, ingredientes como bolotas e inhame japonês fazem com que o esforço em provar algo de diferente valha a pena, transformando um jogo perdido numa competição que se vai jogar taco a taco até ao segundo final.
Mas o melhor de tudo está reservado para um duelo épico entre Asano (pai) e Korosensei, que mete granadas e muita, mesmo muita matemática. “Os fracos só conseguem matar os fortes planeando assassinatos. Mas os fortes matam os fracos quando e como lhes apetece”. Korosensei é, porém, o maior dos maiores, aceitando disputar um duelo claramente viciado. É também neste volume que começa a ser desvendado o plano de Asano, que gira em volta de um novo e muito Orwelliano projecto educativo. Está ao rubro este Assassination Classroom!
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