“Portanto, esta é a minha vida. E quero que saibas que estou feliz e triste ao mesmo tempo, e que ainda estou a tentar entender como é que isso é possível.”
As palavras acima transcritas são de uma carta de Charlie, o narrador e protagonista de “As Vantagens de Ser Invisível” (Asa, 2018), a um leitor que actua como um amigo imaginário, dias antes de iniciar, apavorado, a sua aventura no 10º ano de escolaridade.
Charlie vive com os pais e os seus dois irmãos: o mais velho é um incrível jogador de futebol americano, que quando não está em campo dedica o tempo a adorar o seu Camaro, carro que ele próprio arranja; e a irmã do meio, muito bonita e má como as cobras no que a rapazes diz respeito. Uma família, aparentemente, como tantas outras, onde o diálogo é muitas vezes contido e os problemas graves tendem a ser arrumados com uma frase como “há pessoas que passam por coisa bem piores”, seguida de um ponto final parágrafo que impede qualquer seguimento.
Aos 15 anos, Charlie é um tipo pequeno e tímido que ainda não beijou uma miúda, devastado por um suicídio, mas que ainda assim não vira costas a uma luta, seguindo os ensinamentos do seu irmão: “Ataca os joelhos, a garganta e os olhos”. Chora também muito, lendo livros como “Mataram a Cotovia” e lembrando-se, muitas vezes, da tia Helen, com quem se habituou a crescer.
No recreio olha à sua volta e percebe que, apesar dos muitos grupos que se formam, não pertence verdadeiramente a nenhum deles, nem às festas, ao sexo e às drogas que parecem circular fora de horas e em contramão. Ainda assim, na sua vida surge um milagre chamado Sam, uma finalista por quem vai morrer de amores, e que tem como irmão Pat, um homossexual nada assumido. Serão eles que, recorrendo a pinças, irão guiar Charlie pelos sempre complicados anos da adolescência, tentando afastar a sombra na qual este parece querer repousar.
Stephen Chbosky recua ao tempo das cassetes de música gravadas a preceito, dos posters a preencher as paredes do quarto, das listas de filmes – como “O Clube dos Poetas Mortos” ou “A Primeira Noite” -, livros – há títulos como “À Espera do Centeio”, “Pela Estrada Fora”, “Walden” ou “Festim Nu” – e discos preferidos, tempo esse que, apesar de todas as diferenças tecnológicas e do expandir da linha temporal, faz da adolescência um revolucionário e complicado período da existência, tanto para os adultos que o viveram como para os adolescentes que o experimentam agora. Um livro inspirador sobre a perda, o medo, a amizade, a tristeza e a culpa, que passa uma mensagem de esperança, uma daquelas frases para gravar num azulejo e oferecer aquele amigo que tende a ficar na sombra: “Nunca estamos sozinhos”.
Stephen Chobsky é um romancista, argumentista e realizador de cinema, conhecido sobretudo por este “As Vantagens de Ser Invisível”, que o próprio adaptou ao cinema. Escreveu também os argumentos para os filmes “Rent” e “A Bela e o Monstro” (na versão de 2017, com Emma Watson). Foi ainda co-criador, argumentista e produtor da série de televisão “Jericho”, que passou na CBS entre 2006 e 2008. Mais recentemente realizou o filme “Wonder – Encantador”, com Julia Roberts no principal papel.
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