Propomos mais um olhar sobre as novidades que irão chegar às livrarias nos próximos meses, desta vez dedicado à Devir, editora que arregaçou as mangás e decidiu expandir o seu catálogo. Ao longo de 2025, serão lançadas oito obras premiadas em Angoulême, um dos mais prestigiados e importantes eventos de banda desenhada do mundo; o formato álbum ao estilo da BD old school apresenta-se com a reedição da Trilogia Nikopov, um dos clássicos de Enik Bilal; os mangás continuam em alta, seja pela continuação das várias colecções em andamento como pelo lançamento de algumas novidades. Fica um breve resumo do muito que está por editar.
O mês de Janeiro.vai ficar marcado pela continuação de colecções mangá como Demon Slayer (Vol.19), My Hero Academy (24), Naruto (Vol. 54) e One-Punch Man Vol 20) e, em Fevereiro, chegará uma das grandes apostas no domínio da novela gráfica: “Hitler“, obra do celebrado autor japonês Shigeru Mizuki, que nos oferece uma abordagem única e incisiva à figura de Adolf Hitler e ao impacto da sua liderança na história mundial. No final do livro pode ler-se uma entrevista fictícia de Shigeru Mizuki a Adolf Hitler, reflexo da abordagem criativa e reflexiva do autor, que utiliza este recurso narrativo para aprofundar a análise do ditador. Mizuki “encontra-se” com Hitler após a sua morte, numa conversa fictícia que ultrapassa os limites do tempo e da realidade.
O destaque alcançado pelo filme “Substância” nos Globos de Outro trouxe de novo para cima da mesa a crítica ao sistema de entretenimento. Esta nova colecção, a ser lançada em Fevereiro, oferece uma visão envolvente e crítica do universo da fama e suas complexas repercussões pessoais.
A história do primeiro volume de Oshi No Ko desenrola-se em torno de uma trama intrigante e repleta de reviravoltas. Ai Hoshino, uma ídolo japonesa muito popular, dá à luz gémeos de forma secreta numa clínica situada na província. O médico que a assiste, Dr. Goro, é assassinado por um stalker obcecado por Ai e, num desenvolvimento surpreendente, reencarna como um dos gémeos. Quando ainda são bebés, Ai Hoshino é também tragicamente assassinada. O gémeo no qual o Dr. Goro reencarna cresce determinado a desvendar quem assassinou a sua mãe biológica, enquanto começa a trilhar o seu próprio caminho na indústria do espectáculo, enfrentando os desafios e perigos desse mundo de glamour.
Será também publicado mais um volume de “Boa Noite Punpun”, série criada pelo renomado mangaká Inio Asano. Uma série com uma narrativa profunda e complexa que explora a vida de Punpun Onodera, desde a infância até a vida adulta. Este mangá distingue-se pela sua abordagem única à representação visual e temática, retratando Punpun e a sua família como pássaros desenhados de forma simples, em contraste com humanos detalhadamente ilustrados, o que serve para acentuar a desconexão do protagonista com o mundo ao seu redor.
A história acompanha Punpun enquanto ele navega pelos desafios da vida, incluindo relacionamentos, inseguranças e a busca por identidade, frequentemente dialogando com um “Deus Imaginário” como uma forma de lidar com sua solidão e questões existenciais. A narrativa é conhecida pela sua intensidade emocional, explorando temas como depressão, ansiedade, e as dificuldades de amadurecimento.
Ainda em Fevereiro teremos a edição do último volume de Tokyo Ghoul: RE, uma das séries de mangá mais icónicas e populares da última década, tanto a nível internacional como em Portugal.
“Trilogia Nikopol” – com publicação em Março – será a primeira das oito obras que serão publicadas pela Devir em 2025, distinguidas com os Prémio Angoulême (Óscares da BD). Esta trilogia, composta pelos álbuns “A Feira dos Imortais”, “A Mulher Armadilha” e “Frio Equador”, é uma obra icónica da ficção científica e do surrealismo. A história ocorre numa Paris distópica de 2023, onde governantes ditadores manipulam a informação e os outros homens para conservarem o poder. Nikopol, um homem que desperta após décadas congelado, vê-se envolvido em conspirações com deuses egípcios que controlam a Terra. Bilal explora aqui temas como corrupção, fanatismo e identidade, com uma estética única de tons sombrios e azuis, trazendo uma atmosfera futurista e enigmática. Enki Bilal oferece-nos uma reflexão sombria sobre o autoritarismo, a desigualdade e a manipulação mediática – temas que continuam a moldar a nossa realidade.
Março será também o mês de Junji Ito. Imaginem uma pequena vila costeira onde o horror não surge de monstros clássicos ou espíritos vingativos, mas sim de algo tão comum e inofensivo quanto… espirais. Em “Uzumaki“, obra-prima do mestre do terror Junji Ito, o autor transforma o quotidiano em puro pesadelo, criando uma experiência visceral que assombra os leitores muito depois de virarem a última página. O estilo de arte de Ito é meticulosamente detalhado e perturbador. As ilustrações grotescas, que retratam corpos humanos distorcidos e deformados por espirais, tornam cada página uma obra de arte macabra. O contraste entre a beleza das paisagens e o horror visceral cria uma experiência visual única.
O terceiro mês do calendário é também o mês da DC Comics, que regressa a Portugal com “Três Jokers“. A ideia foi introduzida pela primeira vez na série Justice League, durante a fase de Geoff Johns. Na história, Batman usa a cadeira de Mobius (um artefacto cósmico que concede conhecimento infinito) para perguntar o nome real do Joker. A resposta que recebe é surpreendente: existem três Jokers diferentes – o Comediante, o Palhaço e o Criminoso -, representações dos diferentes tipos de Joker que surgiram ao longo das décadas. Esta revelação deixou os fãs intrigados, e a mini-série “Três Jokers” foi criada para explorar esta ideia.
Não esquecer também a publicação do primeiro volume de Astra Lost in Space, que combina elementos de ficção científica, aventura e mistério, com um enredo cativante. A história passa-se no ano de 2063, quando as viagens espaciais se tornaram comuns. Um grupo de nove estudantes parte para um acampamento escolar num planeta remoto. No entanto, ao chegarem, são misteriosamente sugados por uma esfera de luz e transportados para uma região do espaço distante, a cerca de 5.000 anos-luz da Terra. Sem comunicação e com recursos limitados, os jovens precisam de trabalhar juntos para sobreviver e regressar a casa, viajando de planeta em planeta enquanto tentam desvendar o mistério por trás do incidente. Astra Lost in Space foi adaptada para anime, e está disponível na Prime Videoe Apple Tv.
Em Abril será publicada “Alack Sinner“, a segunda das oito novelas gráficas premiadas. Criada por José Muñoz e Carlos Sampayo, segue a vida de um detetive privado envolvido em casos complexos. Ao contrário dos detetives clássicos do género policial, não é uma personagem glamorosa, antes um homem desencantado com o sistema, um ex-polícia que abandona a corporação por questões éticas. Uma obra profundamente influenciada pelo género noir, mas que ultrapassa as suas convenções ao explorar questões sociais e políticas, como racismo, corrupção, desigualdade, violência policial e marginalização.
Ainda neste mês, outras obras da DC Comics chegam às livrarias: o primeiro volume de “A Bela Casa do Lago” e “Corpos”.
“A Bela Casa do Lago, Vol.1“, de James Tynion IV, com arte de Álvaro Martínez Bueno e cores de Jordie Bellaire, centra-se num grupo de amigos que aceita o convite de Walter, uma figura enigmática, para passar uma semana numa luxuosa e isolada casa junto a um lago. O que começa como umas férias idílicas rapidamente se transforma num cenário de mistério e terror, à medida que eventos apocalípticos ocorrem no mundo exterior.
“Corpos“, de Si Spencer, apresenta quatro detectives para investigar o mesmo homicídio em Londres, cada um situado numa época diferente: 1890, 1940, 2014 e 2050. Esta estrutura permite explorar como um único crime pode repercutir-se ao longo do tempo, reflectindo as mudanças sociais e culturais de cada período. A BD foi ilustrada por uma equipa de artistas talentosos, incluindo Dean Ormston, Tula Lotay, Meghan Hetrick e Phil Winslade, cada um responsável por retratar uma das diferentes épocas, conferindo à obra uma diversidade visual que enriquece a experiência de leitura. Em 2023, a Netflix lançou uma adaptação televisiva com o mesmo nome.
No universo mangá, chega às livrarias o segundo volume (de 5) de Crianças do Mar, uma obra de Daisuke Igarashi que explora os mistérios do oceano, da vida e da conexão entre os seres humanos e o mundo natural.
“Os Dias que Desaparecem“, de Timothé Le Boucher, verá a luz da publicação em Maio. A história acompanha Lubin Maréchal, um jovem acrobata de circo, cheio de energia e entusiasmo pela vida. Após sofrer uma queda, começa a perceber que está a “perder” dias. Inicialmente, ocorre uma alternância entre os dias em que está consciente e aqueles em que uma outra personalidade assume o controlo do seu corpo. Uma nova personalidade completamente diferente: mais racional, ambiciosa e disciplinada.
À medida que a história avança, Lubin perde cada vez mais tempo, até que as duas personalidades começam a dividir a sua vida ao meio, alternando de forma regular. Esta situação provoca grandes mudanças na sua vida pessoal e profissional, levando-o a questionar a sua própria identidade e a forma como quer viver a sua vida.
Já em Junho, as livrarias recebem “O Silêncio de Malka“, a terceira das oito novelas gráficas. A narrativa é profundamente poética e melancólica, abordando temas como a migração, a memória, a cultura judaica e o impacto das decisões humanas nas vidas alheias. Uma obra considerada um clássico moderno da BD europeia, reconhecida pela sua sensibilidade e pelo traço elegante de Pellejero.
A história centra-se na família de Solomon D., um judeu da Europa Oriental que, no início do século XX, decide emigrar para a Argentina em busca de uma vida melhor. O núcleo da narrativa é a sua filha, Malka, uma menina cuja inocência contrasta com a dureza da vida dos colonos. Após a instalação na nova terra, a vida revela-se mais difícil do que Solomon imaginava, levando-o a tomar uma decisão drástica: ele recorre a um curandeiro ambulante, conhecido como o “Rabino Errante”, para salvar a família da miséria. Porém, a sua escolha terá consequências inesperadas e dolorosas, especialmente para Malka, que será marcada para sempre pelos eventos que se seguem. O título é uma referência simbólica à forma como a protagonista guarda dentro de si os traumas e segredos do passado.
Em Julho a Devir lança “Silêncio“, a quarta das oito novelas gráficas, uma obra considerada um marco da BD franco-belga, tanto pela sua qualidade artística como pela profundidade da sua narrativa.
A história passa-se numa aldeia fictícia chamada Beausonge, situada numa região rural e isolada, onde imperam o preconceito e a superstição. O protagonista, Silêncio, é um jovem surdo-mudo, ingénuo e de grande pureza, que trabalha como criado numa quinta. Ao longo da narrativa, torna-se uma figura central num conflito entre forças do bem e do mal, representadas por personagens que simbolizam diferentes facetas da humanidade: crueldade, compaixão, egoísmo e desejo de poder. Comès cria um retrato sombrio e poético da vida rural, onde o realismo mágico se mistura com uma crítica à intolerância e à marginalização dos mais fracos.
“Caderno Azul” é a quinta novela gráfica, que chega às livrarias em Agosto. Escrita e ilustrada por André Juillard, é considerada uma referência no género de romance gráfico. A história desenrola-se em Paris, onde um homem chamado Victor observa uma jovem desconhecida pela janela do seu apartamento. Intrigado pela beleza e pela aura misteriosa da mulher, Victor encontra, por acaso, um caderno azul que ela deixa cair. O caderno contém escritos pessoais que revelam os pensamentos íntimos da jovem. Movido por um misto de curiosidade e fascínio, ele tenta reencontrá-la, levando a uma série de eventos inesperados. O enredo foca-se nas interacções humanas, nos desencontros e nas incertezas dos sentimentos, oferecendo uma reflexão sobre a fragilidade das relações.
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