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“As Origens de Tudo” | Jürgen Kaube

Por Julia Martins · Em 18/09/2019

Desde a filosofia pré-socrática que o Homem tem a curiosidade de compreender o mundo que o rodeia. Abandonando as explicações mitológicas e as crenças religiosas, procurou um elemento, um princípio único, a partir do qual se explicaria a origem de todas as coisas – arqué (em grego antigo ἀρχή). Era na Natureza que muitos encontravam a arqué, tal como a água, o ar, a terra ou o fogo. Para os Pitagóricos, a concepção é a de que todas as coisas são números. É nisso que consiste a arqué, onde reside a origem da harmonia, da proporção e da medida de todas as coisas.

Muito tempo passou desde a antiguidade grega, mas a curiosidade humana continua bem aguçada. Saber mais sobre as origens é “apurar um sentido para a compreensão da necessidade de passagem do tempo na formação dos processos da civilização, mas também perceber que a aceleração que alguns começos civilizacionais sofreram, através do aparecimento da agricultura, da cidade, do estado“. Saber mais sobre as origens é aprender mais sobre nós, sobre a Humanidade.

”Quando começámos a caminhar erectos? Porque temos de cozinhar? Qual a origem da fala, da escrita e da narrativa? Qual a origem da arte, como a música e dança? Quando é que começámos a enterrar os nossos mortos? Qual a origem do número? Porque usamos moedas? Como nascem as primeiras cidades? Porque é que a maioria das sociedades valoriza a monogamia?” – Estas e muitas outras questões são esclarecidas Jürgen Kaube, um dos especialistas mais reconhecidos na área da divulgação científica, no livro “As Origens de Tudo” (Desassossego, 2019). Trata-se do primeiro livro da colecção Eu amo Ciência, a publicar pela Desassossego, a chancela de não ficção da editora Saída de Emergência.

As Origens de Tudo, Saída de Emergência, Deus Me Livro, Saída de Emergência, Desassossego, Jürgen Kaube, Eu amo CiênciaNuma abordagem científica, onde a filosofia e a história também marcam presença, o autor pretende explicar a origem de vários processos culturais, religiosos, políticos ou de alguns rituais ou acções que nos tornam únicos e verdadeiramente humanos. Ao longo dos dezasseis capítulos de “As Origens de Tudo” não encontramos respostas exactas e claras para todas as questões, nem esse é o objectivo, mas somos confrontados com um amplo conjunto de teorias e reflexões que nos aproximam de respostas esclarecedoras e que induzem à reflexão.

No capítulo dedicado às origens da música e da dança, é reforçada a ideia de que não conseguimos saber com precisão a data do instrumento mais antigo, pois “os primeiros instrumentos em madeira ou de outro material vegetal como por exemplo, tambores, não subsistiram até aos nossos dias. Também não é certo se as conchas e as carapaças de tartarugas encontradas em sepulcros foram instrumentos musicais”, mas somos forçados a questionarmo-nos sobre o papel da música nas nossas vidas, sobre o que é a música – será “o que soa antes e depois do silêncio?”.

“Como chegamos ao A e ao O, ao alfa e ao ómega, do A ao Z?”. Todos sabemos que a escrita desempenhou – e desempenha – um papel fulcral na História da Humanidade. A escrita assegura a preservação, comprova a nossa História, a forma como nos construímos como humanos. Para além de todas as preciosas informações históricas sobre a escrita, o essencial é exercitar o pensamento sobre questões relacionadas com a arte de escrever como a origem da fala, a relevância da comunicação, o fascínio da linguagem e o deslumbramento da narrativa. Qual o valor de uma história bem contada? Qual a importância das epopeias? “Se pusermos lado a lado as primeiras grandes epopeias, como a de Gilgamesh, a Mahabharata indiana, a Ilíada e a Odisseia gregas, obtemos um padrão não intencional”. As epopeias são histórias sobre heróis, mas são também exemplos de percursos existenciais, da imortalidade e da relação dos Homens com os Deuses, obrigando-nos a (re)pensar a natureza humana, por isso “uma epopeia não envelhece , porque  nunca pertenceu  ao presente”.

Não podemos falar de humanidade sem falar de amor. “O que é o amor, sem o qual, em princípio, não se justifica um casamento. Esta pergunta surge na famosa carruagem de comboio onde Tolstói, em 1889, faz decorrer a acção da sua novela, A Sonata de Kreutzer” – é assim que se dá início ao capítulo dedicado às origens da monogamia. Esclarecimentos biológicos, históricos, religiosos, antropológicos e culturais são dados. Contudo, o importante a reter é que a monogamia só tem significado enquanto o amor e o projecto de vida a dois existir.

Ler “As Origens de Tudo” exige tempo, uma vez que as referências a autores, teorias e livros são inúmeras. Mas haverá melhor livro do que aquele que nos convida implicitamente a descobrir novas leituras ou a reler o livro há muito esquecido na nossa estante?

 

Jürgen Kaube é um reconhecido escritor na área da Ciência. Iniciou a sua carreira na Universidade de Bielefeld, antes de se juntar à equipa editorial do Frankfurter Allgemeine Zeitung. Em 2012 foi reconhecido publicamente Science Writer of the Year pela medium magazine e, em 2015, tornou-se um dos editores do Frankfurter Allgemeine Zeitung, recebendo o Ludwig Börne Prize.

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Julia Martins

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