Jung Chang volta a surpreender-nos com um novo livro, intitulado “As Irmãs Soong: a Mais Velha, a Mais Nova e a Vermelha” (Quetzal, 2019), que narra o “conto de fadas mais conhecido da China moderna é a história de três irmãs de Xangai, nascidas nos últimos anos do século XIX” – o das irmãs Soong.
Uma história feita de muitas histórias, a da família e a de cada irmã, envolvendo sempre amor, exílio, intriga, guerra, traição e alguma conspiração. Sem esquecer factos da história da China: a cultura, as relações de poder internas e externas ou a política: “A monarquia era o único sistema político que a China conhece. Na época o país era governado pela dinastia manchu”.
A Irmã Mais Velha, Ei-ling,”terminou o curso em 1909 e enquanto as irmãs continuaram os seus estudos em Wesleyan, e fizeram rapidamente amizades, ela regressou a Xangai. Entrou nos 20 anos com a aspiração de fazer coisas na China”. Quando conheceu H. H. Kung, rapidamente se apaixonaram e casaram. Ei-ling, de carácter manipulador acentuado, tornou-se uma mulher riquíssima.
A Irmã Vermelha, Ching-ling, casou com Sun Yat-sen, pai da China Moderna e primeiro presidente da República da China, no Japão. A beleza de Ching-ling tornou-se mais bela após o casamento: “A sua presença na sala, o seu riso amigável, a sua conversa sofisticada deixavam uma impressão mais duradoura do que a personalidade do líder político um pouco duro e sempre sonhador. Para casa visitante, Ching-ling tinha um acolhimento caloroso, uma atitude amável, uma palavra simpática”.
May-ling, a Irmã Mais Nova, regressa à China aos 19 anos depois de ter passado “uma década na América e tornou-se uma jovem divertida e descontraída com pouco interesse pela política”. Um regresso feliz mas simultaneamente estranho, pois estava “habituada a fazer o quero sem consultar ninguém”. Casou com Chiang Kai-shek, conhecido como Generalíssimo, tornando-se a primeira-dama da China nacionalista pré-comunista.
Três mulheres unidas pela emoção, glória e poder. Se uma amava o dinheiro, outra amava o poder, e outra ainda o seu país. Os casamentos fizeram delas figuras políticas de grande relevância na história da China no início do século XX.
A vida privada das irmãs cruza-se com a vida pública, retratando uma época, um país, uma cultura. Recordemos, por exemplo, o episódio da Mme. Chiang, que gostava de tomar banho em leite para que a sua pele se mantivesse luminosa, ignorando que o leite era um bem escasso e não acessível à maioria das famílias de classe média.
Uma biografia apresentada numa edição cuidada, bem documentada, e que inclui um excelente conjunto de fotografias.
Jung Chang nasceu em 1952, em Yibin, na província de Sichuan. Os seus pais eram militantes e dirigentes do Partido Comunista. Aos 14 anos, Jung tornou-se membro da Guarda Vermelha, em plena Revolução Cultural – mas foi por recusar atacar os seus professores e os seus pais, no clima de violência criado por Mao, que se tornou oponente do regime. Deixou a China em 1978, vivendo actualmente em Londres.ina em 1978, vivendo actualmente em Londres.
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