Poderia tratar-se de um simples caso de baralhar e voltar a dar, mas a verdade é que Rick Riordan, autor de série apontadas aos mais jovens como Percy Jackson, Magnus Chase ou Os Heróis do Olimpo, conseguiu em “A Pirâmide Vermelha” (Nuvem de Tinta, 2023), o primeiro volume da trilogia As Crónicas de Kane, sair-se com uma muito bem desenhada aventura, que tem nos deuses egípcios o seu grande alimento.
Carter e Sadie são os narradores à vez desta aventura, irmãos que, desde a morte da mãe e recuando seis anos no tempo, vivem separados. Enquanto Carter ficou a cargo do pai, o brilhante egiptólogo doutor Julius Kane, partindo em constantes viagens pelo mundo, Sadie vive em Londres com os avós maternos. Vidas muito distintas, que neles provoca uma inveja mútua: Carter inveja o facto de Sadie poder ter uma vida normal, feita de idas à escola e de amigos que pode ver quase todos os dias; Sadie inveja as viagens de Carter mas, sobretudo, o tempo que este passa com o pai. Carter é um rapaz meticuloso, sério, enquanto Sadie tem um invulgar sentido de humor, indo sempre directa ao assunto. Em comum, apenas parecem ter o facto de usarem amuletos egípcios.
“A Pirâmide Vermelha” começa quando Julius Kane, na véspera de Natal, leva os filhos ao British Museum, claramente perturbado e repetindo que irá “pôr tudo em ordem“. A verdade é que as coisas correm mal, acabando por rebentar parte do museu após a evocação de uma misteriosa figura, que o faz desaparecer do mapa. É então que os manos decidem abrir o saco preto que o pai tem carregado toda a vida – que recorda aquele saco que Sport Billy carregava nos anos 1980 -, e rapidamente se verão atirados para um mundo de superstições, profecias e ameaças à ordem do mundo, descobrindo que os deuses do Egipto estão a despertar e que Set, o mais ruim deles todos, preparou para eles – e para o mundo – um projecto diabólico. Rapidamente Carter e Sadie irão descobrir as ligações da família Kane à Casa de Vida, uma ordem secreta cuja existência remonta ao tempo dos faraós e, com isso, despertar algo neles que desconheciam de todo.
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É neste primeiro livro que iremos travar amizade com algumas das personagens que irão atravessar – espera-se, caso não haja uma vertigem Martinesca – toda a série: Amos, o irmão de Julius, que tem o poder de mexer com a mente alheia e conhece atalhos temporais que se percorrem à velocidade da luz; Khufu, um babuíno que só come coisas que rimam umas com as outras; Zia, um gato pachorrento que parece nunca envelhecer e que, à primeira oportunidade, se revela uma deusa com poderes que não são de deitar fora; ou Anúbis, um deus que todos vêm com o aspecto de um monstro mas que, aos olhos de Sadie, mais parece um modelo dos catálogos de roupa interior.
Acção constante, muito sentido de humor e uma narrativa que oferece aos mais novos um pequeno vislumbre da magia, das lendas e da glória que associamos ao antigo Egipto.
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