Sherlock Holmes está, para o mundo do crime, um pouco como William Shakespeare para o mundo do teatro. Por muito que os anos passem, as modas partam e as gerações se sucedam, não faltam adaptações a pequenos e grandes ecrãs, subidas e descidas a palcos ou recriações literárias. Se, no caso de Shakespeare, poderíamos apontar o recente “Shylock é o meu nome”, onde Howard Jacobson escreveu um muito elogiado romance recriando “O Mercador de Veneza” – está na nossa lista de espera-, no que toca a Sherlock Holmes podemos escolher, por ser mais recente, o livro “Arte no Sangue” (Harper Collins Ibérica, 2017), onde Bonnie MacBird entra na pele de Arthur Conan Doyle para transportar o leitor ao ano de 1888 e a mais uma aventura do incrível Sherlock Holmes.
Com 34 anos e depois de uma investigação desastrada sobre Jack, o Estripador, Sherlock Holmes está em modo de vegetação, e nem mesmo Watson, o seu amigo e companheiro de aventuras – chamado pela Sra. Hudson depois de um incêndio em Baker Street -, parece conseguir trazê-lo de volta ao mundo dos vivos.
Até que, num dia em que o torpor se começa a instalar depois de mais um exagero de cocaína, Holmes ganha nova alma após receber uma carta perfumada de Mademoiselle La Victoire, uma famosa cantora de cabaret com tudo no sítio, afirmando que o filho ilegítimo que teve com um bem posicionado lorde inglês – um dos nobres mais ricos de Inglaterra – desapareceu e que também ela se encontra em perigo. Emil, a quem a mãe vê uma vez por ano depois de um acordo feito com o progenitor, desapareceu da propriedade onde vivia com este e a sua mulher, cabendo a Sherlock encontrá-lo.
Holmes não está, porém, sozinho nesta demanda, uma vez que o amante de Mademoiselle La Victoire é Vidocq, supostamente parente do homem que fundou a Segurança Nacional Francesa há cem anos, está também em missão detectivesca, ainda que os seus motivos pareçam estar para além do sentimental.
Isto porque, em paralelo, Vidocq e também Holmes investigam o desaparecimento da “Nice de Marselha”, a estátua mais valiosa esculpida desde a Vitória da Samotrácia. E há também a pressão alta de Mycroft, com quem Holmes tem uma dívida depois de este o ter tirado da prisão.
Com um enredo bem construído, onde não faltam detalhes de época, um ritmo frenético e o respeito pelas personagens de Conan Doyle, “Arte no Sangue” é um bem conseguido acrescento às aventuras de Sherlock Holmes, que aqui surge rodeado de uma estranha e pouco habitual fragilidade.
2 Commentários
Thank you, Pedro!
🙂