Durante quatro dias, entre 15 e 18 de Novembro deste ano, a cidade de Ponta Delgada irá receber a edição inaugural do Arquipélago de Escritores, um encontro literário que vai juntar, na ilha de São Miguel, cerca de duas dezenas de autores de referência, entre portugueses e internacionais, prestando também homenagem ao poeta Emanuel Jorge Botelho.
O encontro terá a tradição literária do arquipélago como pano de fundo e Ponta Delgada como porto de cruzamento de diferentes culturas e literaturas, apresentando conversas, encontros com leitores, visitas a escolas, concertos de música – Medeiros/Lucas estão confirmados -, leituras encenadas, cursos e sessões de cinema – partindo sempre dos livros para se falar da vida e tendo, como objectivo, promover o convívio cultural, a troca de ideias e o acentuar o gosto pela leitura.
O Deus Me livro colocou algumas questões a Nuno Costa Santos, o curador do evento, que para além de nos contar de onde surgiu a ideia para este Encontro – e o dinheiro para convocar esta selecção literária com tão bom toque de bola – ainda desencantou um slogan promocional e prometeu, para aqueles que viajarem até aos Açores, poetas a dançar no mítico Arco 8.
Depois do Continente e da Madeira, só faltava mesmo o arquipélago dos Açores para que o puzzle nacional dos festivais literários completo. De onde partiu esta ideia de levar a S. Miguel alguma da melhor literatura que se escreve por aí?
É uma ideia que foi amadurecida ao longo dos anos. Os Açores têm uma forte tradição literária e que não se resume aos grandes nomes, como Antero, Natália e Nemésio. Há muitos outros escritores e pensadores no espaço açoriano que foram escrevendo longo dos anos e que hoje escrevem, de forma diversa e continuada. É nesse território com um passado literário, distante dos centros e das atenções maiores, e que teve sempre que se valer si próprio, com os seus suplementos literários e as suas editoras, que vai acontecer este primeiro Encontro Arquipélago de Escritores. Fundei há três anos uma revista que pretendeu juntar novas vozes e penas experientes. Essa publicação chamada Grotta – nome muito açoriano, vindo da Natureza vulcânica – está na origem desta iniciativa que valoriza uma geografia cultural e esse planeta de múltiplas nacionalidades e feitios que se chama literatura. E o diálogo entre artes. Este é um encontro de escritores, leitores, alunos, músicos, ilustradores, performers, programadores, etc. Há mais uns dados que se podem referir para completar a resposta: os açorianos sempre gostaram muito de receber. Até para mostrar o seu jardim privado coração do mar. Mais: já cirandei por alguns festivais, em Portugal e fora, e fui tirando notas mentais, muitas vezes de inconsciente, para compor um novo ramalhete. E tenho como inspiração festivais como o Tremor e o Walk&Talk. Sinto o espírito de entreajuda. Isso é um incentivo extra. A equipa que está a organizar o evento, liderada pela Rita Fazenda, da StorySpell, e contando com o escritor Hugo Gonçalves na parte criativa, é muito boa. São factores vários, que justificam o que se vai passar.
Olhamos para o cartaz deste ano e, para além de um contingente de autores nacionais, muitos com nível de selecção, descobrimos a de respeitáveis escritores internacionais, tais como Anthony Marra – autor do incrível “O Czar do Amor e do Tecno” – ou de Nathan Hill escriba do irreverente “Nix”. Como se conseguiu montar um cartaz dimensão e, não menos importante, como se convenceu gente a investir tanto num evento literário?
Os autores nacionais têm de facto um bom toque de bola. E pode ser que ainda tenhamos tempo de ir ver um jogo do Santa Clara. O convite que é feito a autores americanos – dois da nova geração e um que se interessa pela vida açoriana na emigração – está relacionado directamente com a ligação fortíssima entre os Açores e os EUA. A Diana Marcum é uma autora com muitas histórias californianas para contar, até pela sua profissão de jornalista. E tem o pormenor ter ganho o Pulitzer. Respeitamos a escrita dos dois autores referidos, pelo rasgo, pela capacidade de arriscar (o Anthony Marra saiu do imaginário caseiro e escolheu contar poderosas histórias do Leste) e de persistir (o Nathan Hill levou uma eternidade até conseguir editar o seu calhamaço). São bons exemplos para a comunidade e creio – até porque já vi entrevistas deles na net – que darão origem a boas conversas. Quanto à última parte da pergunta. A FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento – acedeu à ideia de patrocinar as viagens dos autores americanos, que foi óptimo. E a Câmara Municipal de Ponta Delgada, na pessoa do seu presidente, resolveu avançar para a realização de um encontro literário com uma dimensão importante, por achar justamente que a cidade deve ser valorizada pela literatura e escritores. E todo o arquipélago. Em termos de apoios, é decisivo referir o apoio do Governo dos Açores, através da Secretaria Regional da Educação e Cultura. Está tudo dito: tudo isto se trata de educação e cultura. E de entretenimento também. Porque uma boa conversa dá muito gozo. Não podemos esquecer igualmente o patrocínio do Chá Gorreana. (Diga-se, a propósito, que há livros escritos com o sabor e a companhia do chá).
Sendo o curador um melómano por natureza, encontramos também aqui vertente musical, representada pelo recomendado projecto açoriano Medeiros/Lucas. A edição deste ano estará limitada a este momento ou é de contar com alguma surpresa de última hora?
Há mais um momento que incluirá música, uma composição original a partir de poesia. E teremos ainda festa no já mítico Arco 8, do Pedro Bento, onde se provará que os poetas também sabem dançar.
Se tivesses um parágrafo para convencer leitores praticantes a comprar bilhete e a reservar hotel para o Encontro, como o usarias?
Usaria um slogan que me ocorre agora: Ir aos Açores em Novembro é em si uma experiência literária.
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