A maior viticultora do Douro do século XIX é Dona Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por Ferreirinha, “um nome importante, ou não se escrevia dona assim por extenso, tantos anos depois”. A empresária portuguesa é dada a conhecer por João Paulo Cotrim em “Antónia Ferreira: a Desenhadora de Paisagens” (Pato Lógico/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2017), um livro que conta com ilustrações de Pedro Lourenço.
“São como as uvas, as palavras. Refrescam-no, matam-nos a fome. Trazem-nos cor e um pouco de doce”. Elegantes palavras que iniciam a narrativa sobre Dona Antónia Ferreira, uma mulher com uma energia forte, corajosa, determinada e empreendedora. Dedicada à terra, ampliou as plantações, cuidou das uvas e, quando o Douro estava “doente e a ser abandonado por muitos“, foi persistente e inovadora. Sobreviveu às pragas, tornando-se cada vez mais vigorosa e conhecedora dos segredos do néctar do Douro: “Não são todos iguais, os vinhos. Há fortes e há leves. Doces e verdes. Rubi e branco. Se uns têm sabor a madeira, outros perfumes de frutos”.
O amor pelo primo António Bernardo não lhe deu tantas alegrias como sonhara. Afinal, eram duas personalidades distintas: Dona Antónia, uma mulher da terra que “não vai mais longe do que o Porto, afinal onde o rio acaba, António Bernardo Ferreira adora as grandes capitais do mundo e passará a curta vida em longas viagens”.
Após a viuvez, o desgosto, o terror e a perda, Dona Antónia renasce das cinzas. A viticultora aplica as mais modernas técnicas de construir e organizar e, assim, “acrescenta aos mapas um território que não existia”, acabando por criar um vinhos mais famosos: o Barca Velha. O amor está também de volta. Silva Torres, segundo marido de Dona Antónia, compreendeu a paixão pelas uvas, vinhas e vinho, acompanhou-a na dedicação ao negócio.
É no Douro, sempre no Douro, que Dona Antónia prefere estar. Todos os dias percorria a terra para apreciar as vinhas. Os negócios eram favoráveis, “a Ferreirinha tinha uma fortuna colossal: as suas vinhas produziam 1500 pipas”. A vida social, a mundanidades e a ostentação não lhe interessam. Para além da sua paixão, o que verdadeiramente lhe interessa é ajudar os mais pobres.
Aos 84 anos, a 26 de março de 1896, ouviu-se “o último suspiro da mãe dos pobres, como lhe chamam na sua linguagem simples a gente do povo, logo o Douro se tornou o centro do mundo. São como uvas as palavras. Naquele tempo, costumava dizer-se que a mulher era a senhora da casa. Dona Antónia foi senhora de um mundo. (…) Dona de um destino. Dona de um nome”.
A Desenhadora de Paisagens é um dos títulos que integra a colecção Grandes Vidas Portuguesas, destinada aos jovens leitores, que reúne biografias de figuras portuguesas relevantes.
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