Romancista, guionista e realizador de cinema americano, Stephen Chbosky alcançou a fama após levar “As Vantagens de Ser Invisível”, romance seu publicado em 1999, ao grande ecrã treze anos depois, contando com Logan Lerman e Emma Watson nos papéis principais. Vinte anos depois desse romance, Stephen Chbosky está de volta às livrarias com aquilo que normalmente se chama de calhamaço: são 864 páginas na versão portuguesa.
“Amigo Imaginário” (Asa, 2019) é, todo ele, ambição. Uma história narrada de variadas perspectivas que mistura contos de fadas, terror capaz de levantar os pêlos dos bracinhos e, last but not least, uma Bíblia que parece ter algumas das suas páginas reescritas. Um livro onde se desenrola uma luta entre o bem e o mal, por onde se passeiam palhaços com tendências suicidas, bullies, nuvens estranhas que piscam os olhos e uma senhora sibilante que, aparentemente, quer destruir o mundo como o conhecemos. E também veados, que parecem estar mesmo em toda a parte.
O protagonista tem sete anos e dá pelo nome de Christopher, filho de uma mãe que fugiu de um parceiro violento e de um pai que, quatro anos antes, foi encontrado morto numa banheira com sangue e nenhuma mensagem a explicar o sucedido. Quando chega à pacata vila de Mill Grove, Christopher conhece um homem simpático que tem o hábito de se disfarçar de saco de plástico, e que o avisa sobre a maléfica e muito perigosa senhora dos sussurros. O tal amigo imaginário de que se fala na capa.
Pouco tempo depois, Christopher desaparece durante seis dias no coração do Bosque de Mission Street e, quando reaparece misteriosamente, começam a acontecer coisas muito estranhas, como a sua mãe ganhar a lotaria e tudo o resto parecer resolver-se com a maior das facilidades. Uma coincidência que está longe de o ser: o mal na sua forma mais pura está a fazer das suas, e caberá ao pequeno confrontar os seus terrores, terríveis dores de cabeça e salvar o mundo de uma destruição que está a ser cronometrada ao segundo.
Stephen Chbosky estica a imaginação até ao limite, fazendo-nos entrar num mundo onde as sombras dançam como marionetas, mas a verdade é que se perde um pouco no sentimento, na masculinização dos heróis e, sobretudo, no tom bíblico quase doutrinário, no desejo de querer que o bem triunfe e os pecados sejam expiados. O melhor está mesmo nas zonas cinzentas, quando nos mostra a humanidade em todos os seus traumas, receios, medos, desejos, relacionamentos e sentimentos extremos, capazes tanto de unir uma comunidade como de a levar ao auto-extermínio, num mundo que é, todo ele, um lugar de conflito. Um pouco menos de sentimento e sem uma larga fatia de papel e poderíamos ter tido aqui qualquer coisa.
1 Commentário
Melhor livro que já li em minha vida , me apaixonei dês da primeira página , não quero terminar de ler , é maravilhoso , recomendo muito para quem gosta de suspense e mistérios.