Continuamos a fazer o trabalho de casa do Pai Natal, desta vez com alguns títulos que chegaram às livrarias este ano no universo da literatura traduzida. Romances, ensaios, reedições, ficção científica, biografias- E só escolher, embrulhar e pôr o lacinho.
“A Nossa Parte da Noite” | Mariana Enriquez
Editora: Quetzal
Já se fala de “A nossa parte da noite” como um romance na senda de outros meteoros como “Rayuela”, “Cem Anos de Solidão” ou “2666”, e a verdade é que a estreia de Mariana Enriquez no universo do romance dificilmente poderia ter corrido melhor. Misturando géneros literários e viajando no tempo entre o real e o fantástico, há neste livro sociedades secretas, ditaduras militares ou seres em busca da vida eterna, mas há sobretudo muitas pontas soltas, uma tremenda imaginação e puro génio literário. De mestre. (crítica em breve)
“Os Testamentos” | Margaret Atwood
Editora: Bertrand Editora
Não contente com uma pequena maravilha intitulada “A História de uma Serva”, Margaret Atwood fabricou outra obra-prima situada no distópico regime tecnocrático da República de Gileade, a que deu o nome de “Os Testamentos”. A palavra pertence por igual a três mulheres, aparentemente diferentes mas cada uma, à sua maneira, contendo em si a ideia de radicalidade: duas filhas privilegiadas, separadas por uma fronteira, ambas saídas da primeira geração que cresceu sob a nova ordem, e uma outra, mulher-carrasco que urdiu durante anos uma rede de segredos que usa de forma quase sempre cruel. Brilhante. (crítica em breve)
“O Consentimento” | Vanessa Springora
Editora: Alfaguara
O livro é mais do que uma vingança, é uma denúncia “para que não esqueçam”. É uma obra autobiográfica da editora e escritora, que trata da sua relação com o escritor Gabriel Matzneff, nos anos 80. Uma “história de amor” entre Vanessa, com apenas 14 anos, e Gabriel, com 50. “Conheci G. aos 13 anos. Tornámo-nos amantes quando eu tinha 14, agora tenho 15 e não é possível fazer comparações porque nunca estive com outro homem”. A autora passava tardes inteiras num hotel com Matzneff, que ia buscá-la ao portão da escola. O caso de Vanessa não era o único, já que Matzneff tinha outros jovens amantes (rapazes e raparigas), quase sempre adolescentes, e não escondia de ninguém as suas preferências sexuais. Afirma-o até no seu livro, Les moins de seize ans, (As menores de dezasseis anos, em tradução livre), em 1974. Era, portanto, conhecido no meio literário o seu instinto predatório por menores, sendo até admitido que uma pessoa a partir dos 10 anos já tem uma pulsão sexual que deve ser explorada, e por que não com alguém mais velho. Era também sabido que o autor fazia turismo sexual nas Filipinas, onde procurava crianças e adolescentes. Nunca ninguém fez nada. Pois bem, Vanessa decidiu, finalmente, fazer algo. Depois de várias décadas a sofrer de depressão e de consumo de drogas, conseguiu escrever este livro. (ler crítica)
“O Quarto de Giovanni” | James Baldwin
Editora: Alfaguara
Para além da história homossexual, “O Quarto de Giovanni”, considerado um clássico do romance moderno americano, trata de questões familiares: o ódio ao pai e a rejeição ao meio familiar. “Daquele dia em diante e com a intensidade misteriosa, arguta e terrível de muitos jovens, desprezei o meu pai”. Mas “O Quarto de Giovanni” é, sobretudo, uma narrativa que faz reflectir sobre a forma como decidimos, ou não, viver as nossas vidas. A questão de vivermos sob o mote da falsidade, condicionados pelo medo gerado por preconceitos sociais que nos foram inculcados. O livro de Baldwin, publicado em Portugal pela Alfaguara, é o segundo romance do autor, e trata-se de um sismo potente sobre a necessidade de fazer escolhas e assumi-las. Por vezes, aceitar o quarto que conseguimos arranjar, mas também escolher outro quarto, mudar de quarto e tirar da clandestinidade esse quarto, tornando-o uma casa. Mesmo que essa casa termine em tragédia. (ler crítica)
“Diário do Ano da Peste” | Daniel Defoe
Editora: PIM! edições
Sejamos claros: o presente contexto pandémico não é idêntico ao caos da peste bubónica de séculos passados. Porém, há lições importantes a retirar desta obra, visto que o “Diário do Ano da Peste” foi escrito para exactamente para proveito de uma posteridade em momento de crise sanitária. À falta de uma vacina ou de uma cura para a doença, Daniel Defoe recomenda doses generosas de moderação, cautela e sensatez. Sigamos, portanto, esta terapêutica e o mundo cedo retomará o seu curso habitual. (ler crítica)
E ainda:
“Conduz o Teu Arado Sobre os Ossos dos Mortos” | Olga Tokarczuk (Cavalo de Ferro)
“Ler Imagens” | Alberto Manguel (Edições 70)
“O Crepúsculo da Democracia” | Anne Applebaum (Bertrand Editora)
“Andanças com Heródoto” | Ryszard Kapuscinski (Livros do Brasil)
“Entre Eles – Recordando os Meus Pais” | Richard Ford (Porto Editora)
“Deixa-te de Mentiras” | Philippe Besson (Sextante)
“A Cozinheira de Castamar” | Fernando J. Múñez (Porto Editora)
“As Mulheres da Orquestra Vermelha” | Jennifer Chiaverini (Harper Collins)
“Escrever” | Stephen King (Bertrand Editora)
“O Ano do Macaco” | O Ano do Macaco (Quetzal)
“Os Informadores” | Juan Gabriel Vásquez (Alfaguara)
“Sob Céus Vermelhos” | Karoline Kan (Quetzal)
“Salvar o Planeta Começa ao Pequeno-Almoço” | Jonathan Safran Foer (Objectiva)
“1794” | Niklas Natt Och Dag (Suma de Letras)
“O Silêncio das Mulheres” | Pat Barker (Quetzal)
“Agente em Campo” | John le Carré (Dom Quixote)
“Com Borges” | Alberto Manguel (Tinta da China)
“O General do Exército Morto” | Ismail Kadaré (Sextante)
“Segunda Fundação” | Isaac Asimov (Saída de Emergência)
“Wolf Hall” | Hilary Mantel (Editorial Presença)
“Os Rapazes de Nickel” | Colson Whitehead (Alfaguara)
“O Livro do Pó: Vol. 2” | Philip Pullman (Editorial Presença)
“A Faca” | Jo Nesbo (Dom Quixote)
“O Homem-Espelho” | Lars Kepler (Porto Editora)
“Órix e Crex – O Último Homem” | Margaret Atwood (Bertrand Editora)
“Os Sete Pilares da Sabedoria” | T. E. Lawrence (E-primatur)
“O Rei Recebe” | Eduardo Mendoza (Sextante)
“A Aniversariante” | Anders Roslund (Porto Editora)
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