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Alberto Carneiro, Crítica, Deus Me Livro, Barca do Inferno, Ângelo de Sousa, Mafalda Brito, Rui Pedro Lourenço
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“Alberto Carneiro” + “Ângelo de Sousa” | Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço

Por Julia Martins · Em 05/03/2020

O que é, afinal, uma obra de arte? É esta a questão que serve de ponto de partida a “Alberto Carneiro” e “Ângelo de Sousa” (Barca do Inferno, 2019), dois títulos da colecção Artistas Portugueses do Século XX, onde os jovens leitores terão a oportunidade de conhecer dois grandes vultos das Belas-Artes Portuguesas. Num registo que oscila entre a biografia e o texto informativo, são oferecidos aos leitores brevíssimos apontamentos de enquadramento histórico, pistas para satisfazer a curiosidade e o desvendar dos segredos sobre as obras e o processo criativo dos artistas.

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“Alberto Carneiro” retrata o trabalho de um artista plástico e escultor ímpar. “Ainda criança começa a trabalhar numa oficina de santeiro onde aprende a transformar a matéria, como se a árvore ou a montanha fossem uma extensão de si”. Foi em São Mamede de Corona que tudo começou, mas “os livros ensinavam-lhe que havia um mundo inteiro por descobrir”. Partiu e voltou. A infância, as árvores e a natureza estão sempre presentes. A madeira é a matéria por excelência, descoberta na sua infância, que concentra em si todas as experiências sensoriais.

Sentiu as árvores de uma forma muito peculiar, “como as pessoas, as árvores nunca se revelam completamente, mas o escultor continua a procurar, porque sabe que aquilo que é fundamental é invisível aos olhos”. A partir dos materiais da terra, da natureza, é reinventado um mundo, guiando as mãos do artista, “sussurrando-lhe os passos a seguir até estar pronta para ser escultura”. O artista reforça a ideia de que as “as suas esculturas são para sentir com todo o corpo, os olhos só alcançam uma pequena parte“. As mãos manipulam e transformam os materiais, são fazedoras; o cérebro faz parte do corpo e simboliza o pensamento, as memórias de infância, da natureza, da vida rural ou, dito de outra forma, da terra.

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Já em “Ângelo de Sousa” descobrimos o pintor e desenhador português, autor de uma obra complexa e multifacetada. Muito cedo descobriu que “desenhar é ver o mundo com outros olhos. Nas folhas brancas de papel surgiam navios, aviões ou canhões, como nas revistas de guerra que havia lá por casa”. As suas telas salpicadas são influenciadas pelo movimento expressionista, a gravura oriental, as artes exóticas e primitivas ou a pop art.

“Ângelo observa qualquer coisa no papel e repete com a mão o que vê com a cabeça. O que surge na folha sugere-lhe outra coisa, que a mão continua a acompanhar. O desenho vai-se construindo e descobrindo até que o artista deixa de ver, ou melhor, vê que nada pode acrescentar. E pronto, está pronto”. A sua obra é marcada pelo movimento, pelo ritmo, pela luz e pela cor.

O espirito curioso e inquieto de Ângelo usa a fotografia, o cinema e a escultura como laboratório, onde a criatividade marca presença. A fotografia é uma nova descoberta, e “aprende rapidamente os segredos das máquinas fotográficas”. Preservar no tempo montanhas, corpos, formas e linhas. “Da fotografia ao filme é um pequeno salto”. E, em Carrazeda de Ansiães, podemos passear num jardim que tem uma “obra de arte tão grande que, ao seu lado, sentimo-nos pequenos como formigas”.

As ilustrações, nos dois livros, são inspiradas nas obras artísticas dos artistas, respeitando a originalidade e as cores por eles utilizadas. O texto, de carácter informativo, é simples e claro. As frases a negrito são dispensáveis, querendo sublinhar ideias chave no percurso do artista, podendo ser algo constrangedoras à liberdade do itinerário do leitor. O diálogo entre texto e ilustração é harmonioso, ritmado


Dois livros que se revelam uma excelente opção para os jovens leitores saciarem a sua curiosidade e ampliarem conhecimentos sobre Belas-Artes, nomeadamente a escultura e a pintura. Já mesmo no final de ambos os livros, encontramos uma recomendação que deve ser seguida: “A leitura deste livro não dispensa o contacto directo com as obras de arte”. Aceitemos o desafio e lancemo-nos à descoberta das maravilhosas obras destes artistas, seja em jardins, parques, bibliotecas e museus.

Alberto Carneiro nasce em 1937, em São Mamede do Coronado, muito perto da Trofa, um vale entre Douro e Minho. É na natureza e com a natureza que faz as suas brincadeiras de criança. As coisas da terra ficam gravadas no seu corpo e, mais tarde, nas suas esculturas. Estudou escultura na Escola superior de Belas-Artes do Porto e na Saint Martin’s School of Art de Londres, com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. É professor no Círculo de Artes Plásticas da universidade de Coimbra, na Escola superior de Belas-Artes do Porto e na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Morre em Abril de 2017.

Ângelo de Sousa nasce em 1938, em Lourenço Marques (actualmente Maputo), Moçambique. Estuda Pintura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto, embora o seu desejo fosse aprofundar os meandros do cinema em Paris. Terminado o curso, permanece na escola como docente. Em 1963, com outros artistas plásticos, funda a Cooperativa Árvore. Morre em Março de 2011 na cidade do Porto.

“Alberto Carneiro” e “Ângelo de Sousa” são apresentados numa edição bilingue, com texto de Mafalda Brito e ilustrações de Rui Pedro Lourenço.

Mafalda Brito nasceu em Leiria e licenciou-se em História de Arte. Colaborou com o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

Rui Pedro Lourenço nasceu em Leiria e estudou pintura na ArCo, em Lisboa. Trabalhou em jornais e livrarias. Dedicou-se à ilustração. Em 2012, juntamente com Mafalda Brito, criaram a editora Barca do Inferno.

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Julia Martins

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