Marco Taylor é aquilo a que se costuma chamar de self made man. Nascido em 1973, foi director de um festival internacional de cinema de animação, experimentou o dirigismo associativo, fez mushing – qualquer coisa que envolve cães, trenós e neve – uns anos valentes, plantou árvores e deixou descendência. Para compor o ramalhete, lançou já uma série de livros, a maior parte deles em edições de autor, que o têm levado a um circuito regular de feiras, mercados e eventos literários.
“Abílio” e “A Muda dos Gatos“, ambos lançados este ano, são exemplo das histórias poéticas e melancólicas de Marco Taylor, acompanhadas de ilustrações que fogem um pouco ao cânone, tanto em termos de traço como da própria paleta de cores escolhida.
“Abílio” conta a história de um menino que gostava de sonhar acordado, e que parecia sofrer dos mesmos dilemas mostrados por António Variações em “Estou Além”. Um miúdo que, em bebé e mesmo com a presença de um batalhão aéreo composto de colheres coloridas, cuspia a comida. Até que decidiu fugir para cima, e não faltaram médicos ou trabalhadores de obras a tentar trazê-lo para baixo. Um livro que segue o percurso do berço à escola primária, da queima das fitas à entrada no mundo dos adultos.
“A Muda dos Gatos” segue os passos de Carolina, uma rapariga muda que ficou conhecida como a muda dos gatos. Ela que, ao contrário do que costuma acontecer nas maternidades, teve um nascimento silencioso – “O espaço estava cheio de silêncio” – mas, ainda assim, irrequieto, só se acalmando depois de ter mamado. “A sua boca tomava a posição correcta para cada palavra, mas não havia ruído“. Porém e ao contrário dos humanos, os gatos ouviam-na, assim como outros pequenos animais. Até que um futuro médico lhe disse saber o que se passa com ela: “As tuas palavras têm peso.“
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