Isto das trilogias é tudo muito bonito, mas muitas são as vezes em que o segundo e o terceiro volume estão longe de corresponder às expectativas levantadas com o volume inicial. É o caso de A 5ª Vaga, do norte-americano Rick Yancey, uma trilogia que depois do primeiro e homónimo volume nunca conseguiu manter o nível que então lhe valeu alguns prémios e nomeações.
O cenário era o de uma invasão extraterrestre longe dos habituais estereótipos, que nos remetia, de certa forma, para o clássico “V – a batalha final”, uma série televisiva que, nos anos (19)80, animou as tardes de sábado de muito bom apreciador de sci-fi. Em “A 5ª Vaga”, uma nave extraterrestre fixou-se na órbita terrestre, vigilante, sem estabelecer qualquer interacção, apesar das tentativas que os humanos fazem para comunicar e agir como comité de boas-vindas. Até que, sem nada o prever, uma gigantesca onda electromagnética desactivou todos os sistemas da Terra, fazendo com que as luzes se apagassem e todos os sistemas de comunicação e máquinas deixassem de funcionar. A esta primeira vaga, num crescendo de violência que foi dizimando a raça humana, seguiram-se outras três, parecendo que nada restava ao homem senão esconder-se, passando os últimos dias a viver como um animal perseguido pronto a ser caçado a qualquer instante.
Cassie, de 16 anos, foi uma das poucas sobreviventes, vendo o seu irmão mais novo ser levado para longe dela rumo a um lugar (supostamente) mais seguro. Num cenário de constante desconfiança, onde colocava praticamente tudo em causa, Cassie abraçou a missão de tentar reencontrar o seu irmão, contando para isso com a ajuda de Evan Walker, que viria a revelar-se uma das ameaçadores criaturas que pretendiam condenar o homem à extinção.
Seguiu-se “O Mar Infinito” onde, apesar de o efeito surpresa se ter esbatido ligeiramente em cenários menos atractivos ou espectaculares que os do primeiro livro, mantia viva a imagem de um mundo desolador e condenado, que apenas poderia ser salvo pela força de vontade e instinto de sobrevivência de um punhado de jovens que, simplesmente, se recusava a morrer.
“Os Outros concluíram que a única maneira de salvar o mundo é aniquilar a civilização de dentro para fora. A única maneira de aniquilar a civilização humana é mudar a natureza do homem“. Quem o diz é Ringer em “A Última Estrela” (Editorial Presença, 2017), livro que encerra a trilogia e onde Evan Walker, dividido entre aquilo que lhe foi programado e o seu apego à vida humana, parece ser a mais improvável e remota hipótese para a sobrevivência humana.
O ritmo é frenético mas, mais do que uma história bem urdida, o leitor vê-se atirado para um cenário à moda de um Metal Gear Solid, onde a acção se sobrepõe claramente ao enredo. Um daqueles exemplos onde o princípio de uma boa história foi disperso e esbatido pela necessidade de uma trilogia. Tivesse sido espremido em volume e meio, e talvez A 5 Vaga conhecesse um desfecho mais surpreendente.
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