“O trabalho dela era quebrar o suspeito até não restar mais nada a não ser carne submissa e uma história. Ela não era a melhor porque conseguia separar a verdade da mentira; era a melhor porque tinha uma afinidade natural para as capacidades do corpo humano e era um génio com tubos de ensaio. Sabia exactamente aquilo que um corpo humano conseguia aguentar e exatamente de que forma o haveria de empurrar até atingir esse limite”.
Depois de ter conquistado legiões de fãs com a série Crepúsculo, Stephenie Meyer está de regresso com “A Química” (Editorial Presença, 2016), um thriller de espionagem carregado de suspense e mistério, que marca a estreia da autora neste novo registo.
Desenganem-se os que esperam torcer por lobos ou vampiros ou ver a ingenuidade de Bella Swan refletida na protagonista que dá o mote para este novo livro. Stephanie Meyer traz-nos uma personagem forte, determinada, destemida e implacável, considerada uma especialista e um dos elementos mais ocultos de uma agência do governo dos EUA tão secreta que nem sequer tem nome.
Impedir o terrorismo era a maior justificação para Alex – assim a conhecemos na grande maioria das páginas, apesar de mudar constantemente de nome para sua própria segurança –, matar, torturar e manipular quimicamente os seus alvos, fazendo-os quebrar e revelar tudo que sabiam. Cedo Alex se torna o próprio alvo da agência, vendo-se obrigada a fugir de uma perseguição que tem um único objectivo: eliminá-la. Quando uma réstia de esperança surge com uma possibilidade que acabaria com o clima de medo constante em que vive, a Química, como é conhecida pelo seu talento com tubos de ensaio, decide arriscar, mesmo sabendo que esta pode ser mais uma armadilha para o seu fim.
Ao longo de 541 páginas vamos acompanhando a vida peculiar da protagonista na forma como luta pela sua sobrevivência, recorrendo à química e à criatividade, já que agora não possuiu os recursos ilimitados que outrora o governo proporcionava. É aqui que Stephenie Meyer conquista os leitores, com uma personagem ao estilo MacGyver, com truques inacreditáveis e preparados químicos com diferentes funções, uns mais letais que outros, que vai desenvolvendo enquanto bióloga molecular.
Pelo meio da acção, não falta o romance para dificultar a luta pela sobrevivência e uma surpresa para aqueles que acreditam que os amigos mais fiéis são os de quatro patas. “Era engraçado como não percebemos aquilo que temos a perder até tudo estar perdido”.
“A Química” prende pela conspiração constante, pelo clima de medo em que vive a personagem mas simultaneamente a sua heroicidade, ao início solitária e que depois evolui em sentido contrário. Apesar de ser um livro pautado pela acção, o que confere uma leitura fluída, sente-se por vezes que é uma acção lenta e extremamente descritiva, o que funciona nos momentos de tensão, mas não tanto nos restantes. Um regresso de Stephenie Meyer que surpreende por afastar-se da fantasia e do sobrenatural e que facilmente imaginamos adaptado ao cinema.
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