Luís Osório é um jornalista de reconhecido mérito, já por várias vezes premiado, comunicador privilegiado em contexto televisivo nacional – o jornal “Expresso” distinguiu-o em 2002 como uma das 100 figuras vivas mais importantes da história da televisão portuguesa. Além do jornalismo, foi encenador e responsável pela dramaturgia de “Vagabundos de Nós”, segundo o texto de Daniel Sampaio, que esteve em cena no Teatro Maria Matos, em Lisboa (2004). Com vários livros publicados – “Quanto tempo”, ”Só entre nós”, “Jorge Jardim Gonçalves“ e “Amor” (antologia de pensamentos editada em 2016) -, “A Queda de um Homem” (Teorema, 2017) é o seu primeiro romance, uma extraordinária e acutilante aventura mental sobre a decadência de um homem.
A história, em registo deliberadamente onírico e criada com extrema atenção ao pormenor e numa metodologia muito disciplinada, centra-se num homem de grande poder na sociedade e com muitos – mas mesmo muitos – segredos perversos. Ao leitor não é permitido saber se está vivo, se está a sonhar, se matou ou se foi morto, se é um monstro. O tempo que lhe resta, que é coincidente com o tempo do próprio livro, revela-se como um espaço de auto-compreensão (ajudado pela enigmática personagem do vendedor de botões).
O romance debruça-se igualmente sobre a história de uma mulher, a prima direita deste homem, “aleijada”, presa a uma cama, que escreve histórias e cria personagens apenas dentro da sua cabeça, o único sítio onde é livre, e que tem pelo primo fortes sentimentos contraditórios, alguns inconfessáveis. Estas duas personagens vão encontrar-se numa viagem de comboio – numa terrível viagem de comboio –, na qual vão descobrir-se a si próprias. A metáfora da viagem de comboio é, também ela, a viagem de vida de cada um dos leitores.
A escrita metaforista sempre presente em “A Queda de um Homem” torna este romance absolutamente singular e surpreendente. Fruto de um pensamento muito elaborado, Luís Osório demonstra ser um espirito culto, lúcido e muito desassossegado, que engendra uma magnífica trama com belíssimos textos que resumem a complexa condição humana. O estilo de escrita – eloquente e versátil, mudando do registo real para o sonial e vice-versa, sempre com coerência no fio condutor – denota um apurado conhecimento da língua portuguesa, com um rigor absoluto no léxico e na sintaxe e uma muito bem informada mente sobre o Mundo e o desconcerto do mesmo, a par de um ecléctico conhecimento da política e de todas as áreas da vida em sociedade, com especial incidência nas belas-artes e belas-letras. Luís Osório mantém o leitor atento a uma trama admirável, consentindo, tal como os maiores realizadores cinematográficos, todas as interpretações na narrativa, exigindo ao leitor que seja tão livre a ler quanto ele o foi ao escrever.
“Um escritor inventa histórias, especula com as palavras e faz nascer vidas que antes de as pensar não existiam. Um tempo difícil para os escritores, a maioria exige carne e o osso, coisas que a televisão torna reais, sangue a sério. Uma ironia. Porque é no tempo em que tudo parece virtual e volátil que se exige que tudo seja implacavelmente real. Ser escritor é não capitular a tal mentira, é recusar escrever a partir da realidade (o lugar em que a verdade melhor se esconde).”
3 Commentários
A minha opinião sobre o livro é ” Gostei e já comentei na página do Luís. Gostei muito, pela originalidade de escrita, pela forma como, ” metafóricamente ” , une os fios da meada que se vai desenrolando ao longo da viagem do combóio, vida das personagens e de todos nós, afinal. A minha viagem acabou, mas já comprei bilhete para a voltar a fazer.”
A minha opinião sobre a crítica da Helena Coimbra é a de que a considero muito boa e acessível, ajudando à compreensão do Livro. Obrigada.
Fiz uma segunda ” viagem de comboio ” que ainda mais me enriqueceu. Coloquei-me como uma personagem da trama literária, mas rapidamente me senti como personagem dum filme, tal é a força cinematográfica que emana da original escrita de Luís Osório. O prazer da leitura surge, nesta segunda viagem, como um importante incentivo. Passando do onírico ao real , a escrita envolve-nos em metáforas, que nos vão relembrando o que nos tempos que passamos pode ser um desafio, ou a falta de escrúpulos, em que tudo vale. Mas, longe de depressivo, o Livro também nos empurra para a procura da Esperança. Imprescindível é ler ” A QUEDA DE UM HOMEM “.
Muito bom este livro…que nos prende…, do início ao fim e nos leva a meditar sobre os tempos conturbados que vivemos……..
Na mi ha opinião…..o Luís Osório….conseguiu o seu objetivo…de escrever um livro em que o leitor é um vector pois cada um de nós faz a sua interpretação muito específica! Quando lemos este livro, conseguimos facilmente encintrar traços da escrita do Luís….apesar deste ser o seu primeiro romance!
Está por isso de parabéns oLuís Osório!