“Chamo-me Sofia. Tenho onze anos e meio, e quando for grande quero ser inútil”. É desta forma desconcertante que tem início “A Praia dos Inúteis” (Akiara Books, 2019), livro assinado por Alex Nogués – e ilustrado por Bea Enríquez – que parte de uma das primeiras dúvidas que assola a existência terrena, muitas vezes ainda antes de se darem na terra os primeiros passos: o que queremos ser quando formos grandes?
Nesta demanda existencial de Sofia atravessam-se os seus pais que, segundo a jovem, são responsáveis pelo incumprimentos de inúmeras promessas, incluindo a geografia onde foi obrigada a habitar. Um verdadeiro fim do mundo que, segundo o avô, corresponde ao lugar “onde Judas perdeu as botas” – ou, nas palavras da avó, um sítio que fica “para lá do sol posto”.
Os pais, aliás, surgem como o motor que a fará pensar naquilo que ganhou e perdeu com a mudança. “O pai tornou-se um grande não” e, quanto à mãe, “uma santa. A Santa Tristeza”. Com o pai a dizer-lhe, em tons cinzentos e negros, que um dia terá de ganhar a vida, Sofia vai passando os dias na praia, descobrindo as estrelas do mar e a beleza dos violinos, atirando com a matemática às urtigas, preferindo viver na companhia de Mozart e Kandinski e a olhar para o universo da arte como o lugar onde quer permanecer.
Com muita poesia lá dentro, “A Praia dos Inúteis” atravessa a adolescência, o olhar parental – e filial – a auto-descoberta e, sobretudo, mostra o quão difícil pode ser o crescimento e a mudança.
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