Considerado internacionalmente um dos mais reconhecidos mestres da espionagem, Daniel Silva foi jornalista e trabalhou para a UPI – United Press International -, primeiro em Washington e depois no Cairo, como correspondente para o Médio Oriente. Nesse período cobriu diversos conflitos políticos e a guerra Irão-Iraque, tendo ganho um profundo conhecimento dos meandros inerentes ao funcionamento dos serviços secretos. Conheceu a sua mulher, correspondente da NBC, regressando juntos aos Estados Unidos. Em 1997, logo após o êxito do seu primeiro livro, The Unlikely Spy, Daniel Silva resolveu dedicar-se por completo à escrita e à literatura de espionagem, tendo escrito mais de vinte livros.
“A Outra Mulher” (Harper Collins, 2019) é um complexo e bem urdido livro de pura espionagem e contra-espionagem, com uma história muito elaborada e pensada, construída como um drama tenso que se desenrola muito lentamente e com grande rigor. O carismático herói desta trama (Gabriel Allon, director dos serviços secretos israelitas) prende o leitor em cada página na expectativa do que vem a seguir. A multiplicidade de personagens secundárias, que poderia confundir o leitor, é trabalhada com tal “mão de mestre” que nunca o baralha ou o deixa sem se saber situar no enredo. Esta é a genialidade de Daniel Silva, contador de uma história não unívoca, equívoca e multifacetada mas coerente, consequente e totalmente verosímil e actual. Gabriel Allon é obrigado a envolver-se no caminho da conspiração quando o seu activo (contra-espião) mais importante no seio dos serviços secretos russos é assassinado quando fazia a tentativa de desertar, em Viena.
A acção passa também por uma misteriosa mulher, de nacionalidade francesa, que vive (agora) na Andaluzia e que começa a escrever as suas memórias, politicamente perigosíssimas, que envolvem um homem que amou, em tempos, em Beirute, e um filho que lhe arrebataram em nome da traição. Esta mulher está na posse do segredo mais bem guardado do Kremlin e do KGB.
Estes são os ingredientes de uma história que se desenrola entre Budapeste, Viena, Beirute, Telavive, Washington, Londres, Berna, Galileia, Sevilha, Zahara, Andaluzia, Estrasburgo e, também, entre activos – com mais ou menor influência – de serviços secretos como o MI5 e MI6, CIA e o KGB.
Na nota final, o autor este alerta que a obra é uma ficção e “que deve ser lida apenas como tal”. Compreende-se perfeitamente este aviso, uma vez que o autor sabe fazer um mix entre ficção, imaginação e profundo conhecimento sobre determinados acontecimentos, sobretudo os emanados por Moscovo (e por Putin recentemente), perigosos jogos de poder entre nações que envolvem violência política e assassinatos (veja-se o caso dos ataques perpetrados por Putin contra os críticos do regime Alexander Litvinenko e Sergei Skripal, dos quais, aliás, o autor fala aqui).
“Os analistas de segurança estimam que dois terços dos `diplomatas` colocados nas embaixadas russas na Europa Ocidental são, na verdade, agentes dos serviços secretos.”