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“A Origem dos Dias” | Miguel D’ Alte

Por Ana Ilhéu · Em 05/02/2025

“A vida é como um livro. Andamos por aí, viramos páginas, começamos novos capítulos, temos a nossa catarse. No fim, deparamo-nos com um desfecho feliz ou um desfecho terrível.”

Miguel D’Alte já não passa despercebido no panorama literário nacional. À escala, continua a ser um jovem escritor que persegue grandes paixões como a literatura e a escrita, mas também viajar e perceber um pouco mais da história do mundo. “A Origem dos Dias” (Suma de Letras, 2024) é o seu terceiro livro, à velocidade de um por ano. Com algum paralelismo com o protagonista da história, Miguel D’Alte explica na Nota Do Autor final que demorou cerca de nove anos a escrevê-lo, tendo-o começado em 2015, quando vivia em Lyon, atribuindo-o ao resultado de acasos, pesquisas, leituras, viagens e muitas emoções. O curioso é que se sente um pouco de tudo isso quando se acompanha Tomás Franco, também ele um jovem em busca de muita coisa, mas principalmente de sentido e identidade para uma existência que ancorava na convicção de que iria ser escritor.

Muito jovem, Tomás Franco deixara o interior e mudara-se para a cidade do Porto, em busca de liberdade para escrever e querendo descobrir a sua essência por detrás de uma existência condicionada por uma história familiar difícil e traumática. Crescera dividido entre o dever da tristeza, pelos traumas familiares, e a ânsia da criação e da descoberta de várias coisas, entre as quais a sua própria capacidade de seguir em frente e um dia um ser escritor, como o avô, que após a segunda grande guerra deixara Paris e se refugiara numa terriola de Portugal.

Através de Tomás Franco, um personagem com o qual facilmente se simpatiza, Miguel D’Alte expõe o peso da memória, a forma como a mesma permanece mesmo quando o tempo passa, quando se seguem caminhos de evitamento para seguir em frente. Tomás retrata a sua trajectória pessoal, partindo do momento em que se encontra já no Porto, anos após ter abandonado a terra e a família, procurando o distanciamento e a independência necessária para transformar a sua identidade em material literário. Queria ser escritor mas a produção há anos que ficava aquém, passando a arrastar-se entre trabalhos desinteressantes apenas para sobreviver, no limiar da sanidade mental e física, mas com o despudor de alguém que não desiste de ser especial, inspirando-se nos enfants terribles da literatura mundial, muitos dos quais também haviam começado por ser pobres, alcoólicos, deprimidos e ignorados.

A história que Miguel D’Alte escreve é um aconchego para quem não vive sem a literatura e os livros. Tem tudo: amor, tragédia e referências a obras e autores inspiradores – e, acima de tudo, aquele bichinho altamente contagioso que impulsiona a continuidade da leitura, onde há sempre mais uma obra a descobrir e mais um autor a nascer. Miguel D’Alte dá voz àqueles que consideram que ler é uma parte tão importante da vida, tão importante como comer, dormir ou respirar.

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O protagonista parte à procura de aventuras e da literatura, deixando para trás uma família cheia de traumas. Um avô que fora um escritor anti-semita, refugiado francês em Portugal, a morte acidental da sua irmã mais nova, que fez a família entrar num buraco negro. Em 1999 embarca numa nova viagem, no sentido de deslindar as muitas incoerências que o rodeavam. Em Lyon, procurava o seu lugar no mundo e a verdade sobre o avô e limpar o seu nome. Algumas das memórias são difusas, condicionadas pelo estado ébrio que se tornou frequente. Encontros, cigarros partilhados em festas de ocasião, ligações intensas sem perguntas, desparecimentos, descobertas, tudo perfeitamente enlaçado, sem previsibilidades ou lugares-comum.

“A Origem dos Dias” é também uma história que dignifica a tradução, dando sentido e substância ao papel de quem procura apreender a mensagem e o sentir do escritor para o integrar numa nova língua, realizando um trabalho de engenho e de minúcia, que precisa de ser mais nomeado. No caso, ao aceitar trabalhos de tradução de alguns autores estrangeiros, Tomás Franco embrenha-se em camadas subcutâneas das obras, para interpretar o que está em questão no texto e chegar a conteúdos e a emoções que escapam às palavras.

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Ana Ilhéu

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