“Abre-se
a este suave vento
de Primavera
o compacto gelo da imóvel
estação,
e os barcos retornam ao mar…
Agora temos de tecer
Coroas
e com elas cingir a nossa cabeça” (I, 4)
O verso acima transcrito é retirado das Odes de Horácio, livro que serve de alimento a Carlo Rovelli, autor de Sete Breves Lições de Física, para introduzir cada um dos capítulos de “A Ordem do Tempo” (Objectiva, 2018), que está a muitos anos-luz de poder ser considerado física para totós. Será, talvez, um caso de transformação da Física em romance, ou pelo menos em matéria literária capaz de apaixonar aqueles para quem a palavra apenas havia sido levada a sério quando pronunciada logo a seguir a “Educação”.
Rovelli considera o tempo o maior mistério humano, ligando-o através de estranhos fios a outros grandes mistérios não resolvidos: “a natureza da mente, a origem do universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida”.
O livro, com uma abordagem apaixonante que fará com que os leigos se sintam físicos desde nascença, está compreendido em três partes: na primeira, temos um resumo do que a Física moderna compreendeu sobre o tempo, bem como um relato da sua desintegração; na segunda, Rovelli descobre o que sobrou no fim, momento do surgimento da física quântica – “o esforço de compreender e de dar um sentido coerente a esta paisagem extrema e belíssima: o mundo sem tempo”; na terceira, faz-se uma viagem de regresso “rumo ao tempo perdido na primeira parte do livro, em busca da gramática elementar do mundo”. Ou, como diz Rovelli em jeito de brincadeira, “como num romance policial, agora vamos atrás do culpado que gerou o tempo”.
O que é o tempo e até que ponto o compreendemos? Temos uma existência no tempo ou o tempo existe dentro de nós? Estará o passado realmente fechado e o futuro tão aberto como julgamos? Entre o espírito X-Files, o ensaio académico e o gosto pela poesia clássica, Rovelli faz da física e do tempo um lugar apaixonante, combinando arte, filosofia e transformando ciência em matéria literária. Um livro apaixonante mesmo para quem não pesca grande coisa de Física.
Carlo Rovelli é físico teórico e membro do Instituto Universitário de França e da Academia Internacional de Filosofia e das Ciências. Trabalhou em Itália, nos Estados Unidos e em França, e tem vários livros publicados na área. Sete Breves Lições de Física trouxe-lhe a admiração de académicos e leigos, conquistando mais de um milhão de leitores por todo o mundo.
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