Foi uma das grandes edições de 2024 no que à gastronomia e à literatura dizem respeito. “A Mercearia do Mundo” (Quetzal, 2024), livro que conta com a direcção de Pierre Singaravélou e Sylvain Venayre, é um (quase) dicionário de muitos dos sabores do mundo, que começa por colocar a carne a assar no churrasco para terminar em, jeito de digestivo, com um chá de rooibos.
Cada iguaria é apresentada em cerca de 5 páginas, podendo revelar-se a sua origem, a sua história, a forma como foi implantada e difundida pelo mundo, as várias propriedades e usos que lhe foram sendo dados ao longo do tempo. Tudo com muito substracto histórico, um toque de fait divers e uma linguagem que prende o leitor como um bom gourmet à espera que a refeição lhe caia no prato.
Fala-se do gin, essa “entidade maléfica e letal“, inventada por monges flamengos no século XIII; bebe-se um rum com umas gotas de sangue de galo à mistura, tentando não o entornar no meio de um tumulto dos grandes; acompanhamos Thomas Jefferson na sua paixão pelas massas italianas, tão grande que o fez encomendar uma prensa; assistimos à cerimónia do café, um acto tão religioso como uma missa no Vaticano; ou aventuramo-nos pela tapioca, um “produto insípido, inodoro e incolor” que se tornou um achado – é com ela que se faz o afamado bubble tea.
No final de cada viagem serve-se uma caprichada bibliografia para quem desejar saber mais, estendendo este olhar sobre como os produtos alimentares se tornaram parte da moderna globalização. Em tempos onde os super e os hiper são reis, é tempo de visitar a esta mercearia onde há um pouco de tudo. Sobretudo boas histórias.
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