“Um dia, uma menina desejou desenhar o mundo”. É assim que começa o livro “A Menina que Queria Desenhar o Mundo” (Nuvem de Letras, 2020). O início da narrativa poderia ser igual a muitas outras, mas não é assim. Estamos perante um texto simples e imaginativo, onde cada página branca é conquista por rabiscos, formas, cores e um traço tímido e duvidoso – “sim, porque um risco também tem dúvidas”.
A menina que decide desenhar o mundo é a mesma que não conhece a palavra “desistir” e que, apesar do mundo ser grande, muito grande e não caber numa folha de papel, toma a decisão de fazer “um risco tímido, duvidoso” que, num crescimento lento, torna-se espesso e assertivo. Para desafiar a timidez do traço, a menina desenha-lhe umas asas para que ele “pudesse levantar o tão desejado voo”. Inaugura-se então a grande aventura: atravessa “terras e mares”, conhece “uma árvore que era envergonhada. Só crescia se não estivesse a olhar para ela”, encontra vários caminhos descobrindo que “todos podem ir dar ao mesmo sítio”, aprende que “naqueles sítios onde dizem que acaba o mundo, começa logo outro “ e ainda arranja tempo para atravessar um país “onde havia uma palavra mágica para tudo e que tudo fazia acontecer: NÓS”. Uma aventura longa, enriquecedora e de múltiplas aprendizagens, da qual não apetece regressar.
Num diálogo complementar, texto e imagens fundem-se num só, tornando “A Menina que Queria Desenhar o Mundo” num livro surpreendente onde o elogio ao desenho, como forma de expressão, bem como a educação pela arte, surgem de forma explícita.
Em todas as páginas da narrativa, o traço tímido e duvidoso marca presença, ora amarelo, azul ou preto, ora verde ou vermelho, como que mostrando o fio condutor da valentia e da persistência da menina que não conhecia a palavra “desistir”. As guardas do livro dão enfase ao traço, fornecendo-nos indícios sobre a passagem do tempo na narração da história. Um álbum ilustrado que vale a pena ler, reler ou dar a ler.
Adélia Carvalho nasceu numa pequena aldeia de Penafiel. Última de sete filhos, cresceu muito influenciada pela figura do avô materno, grande contador de histórias. É licenciada em Educação de Infância pela Escola Superior de Educação do Porto e leccionou em diferentes escolas, antes de se dedicar exclusivamente à escrita. Fundadora da livraria Papa-Livros e da editora Tcharan, é autora de vários livros infantis premiados e traduzidos em vários idiomas.
Sérgio Condeço nasceu no Estoril, mas foi um erro da cegonha. Cedo foi para Moçambique e lá passou a sua infância. Estudou Design e, durante os últimos vinte anos, trabalhou nesta área. Em 2015 decidiu dedicar-se à ilustração. Foi ilustrador da revista Notícias Magazine (Diário de Notícias e JN) e apresentou trabalhos em exposições individuais em Lisboa e Porto. Tem actualmente um atelier em Lisboa.
2 Commentários
Obrigada pela leitura das minhas palavras.
Gostei muito
Adélia Carvalho
Obrigado, Adélia. Adorámos o livro!