“A Língua de Fora“, de Juva Batella (Nuvem de Tinta, 2017), é uma fábula de peripécias e reencontros sobre a língua portuguesa, escrita de forma criativa, amigável e entusiamante.
Com evidente adesão ao animismo, atribuindo características humanas a figuras inanimadas, Juva Batella fala da natureza humana de forma camuflada, através de analogias. Usando recursos da função sintáxica e linguística apresenta-nos figuras gramaticais humanizadas, levando-as a comportar-se e a falar como personagens num enredo.
Tom Coloquial, chefe de um grupo de outsiders composto pelo Pleonasmo, as Gírias, o Palavrão, o Mal-Entendido, o Cacófato e o Barbarismo, vive no Reino das Palavras Contadas, governado pelo Verbo, um ditador que se aproveitou da morte do Rei Latino, o Conquistador, bem-amado soberano, para transformar o reino das Palavras Livres num lugar sem liberdade, sem brilho e sem criatividade. Tom e o seu grupo assumem então a missão de encontrar a Língua Portuguesa, jovem princesa que se encontra aprisionada no seu “belíssimo quarto, na janela mais alta do andar mais alto da mais alta torre de uma majestosa mansão“, entregue aos cuidados do Purismo e do Preciosismo que tinham como missão garantir a guarda e a educação seleta da jovem, mantendo-a afastada do mundo real e quotidiano.
Até ao momento em que foi localizada por Tom Coloquial, Língua Portuguesa vivia alheada da realidade do mundo, numa redoma, desconhecendo a sua condição de princesa, circunscrita a um quotidiano prosaico e acessório. Já em fuga da torre onde vivera na ignorância durante tantos anos, descobre a riqueza da criatividade e da liberdade de expressão, aderindo ao desafio de Tom Coloquial e do seu grupo de derrubar o ditador Verbo e escrever a verdadeira história do Reino das Palavras Livres.
No Reino das Palavras Contadas os cidadãos eram obrigados a submeter à autoridade do rei Verbo o que queriam dizer, obrigados a medir as palavras e a pesar os discursos. Falar constituía uma actividade cuidadosamente vigiada. Seguem-se aventuras e peripécias protagonizadas por figuras gramaticais, numa narrativa com diversão e humor para o leitor como, presente-se, também terá sido para o escritor.
A trama de “A Língua de Fora” prende a atenção desde o início, ultrapassando as questões da língua, revelando-se um belíssimo exercício para jovens como para peritos em questões de sintaxe. Uma narrativa e um enredo improvável e muito original, sem monotonia, tal a diversidade de personagens (tantas quanto as figuras e os recursos gramaticais existentes) e de papéis – “A Dona Rima de Lima, lá da sua casa, sorriu, uns olhões arregalados. Poesia! Rimas!, pensou. Sem os versos, que seria do mundo? Seria um mundo gemebundo, infecundo, iracundo, moribundo e imundo; um mundo improfundo, nauseabundo, tremebundo, vagabundo e errabundo. Seria um mundo-submundo, do nada oriundo; um poço sem fundo e nada mais“.
Com este livro, Juva Batella, nascido e criado no Brasil, reforça a sua paixão pela linguística e, em particular, pelo estudo da língua portuguesa, dedicando-se a estudos e escritos vários, explorando o seu carácter dinâmico, atribuindo valor à sua vertente clássica, como à mais vulgar, ambas enriquecidas pelo mesclado de dialectos locais e episódios históricos, inúmeras variáveis antes de chegar ao que conhecemos nos dias de hoje.
2 Commentários
Cara Francisca, gostei muito do que escreveu acerca de meu livro.
Muito obrigado, e este abraço.
Juva Batella
Gostei muito do livro pois infativa nós jovens a entender e passar a compreender a língua portuguesa eu parei na página 73 até agora estou gostando muito do livro mais tenho certeza que vou gostar muito mais
Matheus 11 anos