Éric Vuillard é um escritor francês e director de cinema. Realizou dois filmes, “L’homme qui marche” e “Mateo Falcone”, este último baseado numa história de Prosper Merimée – um escritor romântico francês que ficou célebre pelo conto que resultou na ópera Carmen. Nascido em Lyon no ano de 1968, Vuillard é também autor do livro “A Ordem do Dia”, vencedor do Prémio Goncourt de 2017, com edição portuguesa pela D. Quixote.
“A Guerra dos Pobres” (D. Quixote, 2020) é uma narrativa que remonta ao século XVI, sobre um brutal episódio de um grande levantamento popular no Sul da Alemanha – uma insurreição que se estendeu à Suiça e à Alsácia. Ao lado dos sublevados (“hordas de miseráveis”, “tropas de vagabundos”), após a Reforma protestante que não conseguiu cumprir os desígnios sociais pretendidos de igualdade, está o protagonista desta história, um jovem padre cristão de nome Thomas Muntzer.
É a narrativa da curta vida desta personagem – que decorre desde os seus 11 anos, quando o pai foi enforcado, até á sua própria morte, aos 35 anos, decapitado – que enche as páginas deste livro, onde História e eloquência se misturam em doses muito apelativas para o leitor.
“Porque é que o deus dos pobres estava tão bizarramente ao lado dos ricos, com os ricos, sem cessar?”, perguntam os miseráveis (tecelões e mineiros) de Zwickau, lugar onde Muntzer pregava, insurgindo-se contra os nobres e as classes dos ricos.
A narrativa parece curta, mas encerra nela todo um mundo, tocando aspectos fundamentais da vida do homem na Idade Média e no início da Idade Moderna, desmistificando a luta de classes, o aburguesamento de quem lutou contra os privilégios da burguesia, a política, a religião, os usos e costumes, a “honra” da nobreza, as rebeliões e os factos históricos, feita com algum sarcasmo e uma escrita curta (há muitas frases de apenas três palavras), sincopada e densa.
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