“Tem coragem de deixar de vir à tona os tesouros que estão escondidos dentro de si? Olhe, não sei o que está escondido dentro de si. Não tenho como saber. Talvez até mesmo o leitor mal saiba, embora eu suspeite de que já tenha tido vislumbres. Não conheço as suas capacidades, as suas aspirações, os seus desejos, os seus talentos escondidos. Mas há, com certeza, algo maravilhoso guardado dentro de si.”
As aspirações de Elizabeth Gilbert começaram a ganhar vida para todos os leitores no momento em que o seu conto Pilgrims foi publicado na revista Esquire, em 1993. Ser escritora, tal como explica em “A Grande Magia” (Objectiva, 2016), esteve desde sempre nos planos de Gilbert. Mesmo após tantas cartas de rejeição e de meras tentativas de dar a conhecer a sua arte, a escritora nunca desistiu e colocou sempre mãos à obra para dar vida a tantas histórias e livros que queria contar. Ser a primeira escritora, sem um livro publicado até à data, a ser destacada pela Esquire, foi um dos primeiros sinais dos benefícios de viver em equilíbrio e satisfação com a criatividade, a que Elizabeth Gilbert chamou de Grande Magia.
À medida que o sucesso foi tomando conta da carreira da escritora, conseguindo atingir o êxtase a nível mundial com o livro de memórias “Comer, Orar, Amar”, as entrevistas dadas para discutir o seu sucesso faziam referência à vivência com a criatividade. As suas paixões e a sua criatividade trabalhavam como uma força mágica que levava Elizabeth Gilbert a não desistir, a continuar a dedicar-se ao trabalho. Foram as suas paixões – comer, orar, amar em Itália, Índia, Indonésia e discutidas em duas conferências TED – que deram origem ao seu livro mais bem-sucedido, a uma história tão pessoal e íntima que cativou tantas pessoas. Baseada nas suas experiências pessoais e longe de se basear em teorias filosóficas ou científicas, Gilbert faz de “A Grande Magia” a descoberta de um novo caminho através da criatividade, onde não há lugar para angústias e problemas desnecessários.
Para dar início a uma jornada até à criatividade, é necessário trazer à superfície todas as qualidades do leitor e, para tal, é necessário ter coragem. Será necessário colocar de lado tudo o que assusta o leitor, o que o aterroriza e é desnecessário (“A criatividade é um caminho para os corajosos, mas não para os destemidos, e é importante reconhecer a distinção. Coragem significa fazer algo que nos causa medo. Destemor significa não entender sequer o que a palavra medo significa”). Para explicar os seus pontos de vista sobre a criatividade, a escritora não hesita em contar, como exemplo, episódios da sua própria vida. Episódios na sua maioria curiosos, que acabam por trazer o argumento de que necessita. A partir desse ponto, cabe ao leitor decidir se concorda ou não com os pontos de vista da escritora – e é aqui que reside a sua beleza.
De certa forma, este novo livro de Elizabeth Gilbert relembra a sua obra “Comprometida – Uma História de Amor” (Bertrand Editora, 2010). Para contar a história do seu casamento atribulado como o brasileiro Felipe – uma bela história de amor iniciada nas memórias finais de “Comer, Orar, Amar” com Bali como cenário de fundo –, a escritora escreveu também sobre o significado do matrimónio ao longo da história da Humanidade – e para diferentes povos. Dois lados da mesma moeda. Apesar de não existir qualquer tipo de prova científica apresentada em “A Grande Magia”, é com a realidade da sua vida que a escritora comprova a sua opinião sobre uma vida plena de criatividade. Igualmente dois lados da mesma moeda: conselhos sobre a criatividade e exemplos reais e pessoais.
Porém, para se ter uma vida bela graças à força da criatividade, não basta ter coragem. Ter uma ideia – o momento mágico em que se sente “calafrios nos braços e na nuca, um certo enjoo e uma leve tontura” – é, provavelmente, o conceito mais curioso de todo o livro. Gilbert defende que as ideias rodopiam sempre à volta dos seres humanos, à espera de parceiros disponíveis e receptivos. Quando uma ideia acredita que encontrou alguém que a possa trazer ao mundo, sob a forma mais variada de arte, acaba por se ligar a esse ser humano. Mesmo esta bela definição acaba por ser comprovada por uma bela história que ocorreu à escritora e à sua amiga – e também escritora – Ann Patchett. Para dar asas a uma ideia, boa ou má, é necessário ter força e vontade. Os caminhos para celebrar a vida criativamente começam muito antes de existir uma tela branca ou uma pauta de música à nossa frente. Ganham vida nas atitudes, nas abordagens escolhidas para viver a vida e nos pensamentos.
“A Grande Magia” balança entre a realidade e a imaginação. Com a força das suas palavras e o entusiasmo pelas suas convicções, a autora é capaz de contagiar até os leitores mais cépticos. Há histórias de vida tão interessantes que poderiam dar origem a um livro, mas Elizabeth Gilbert faz questão de ir escrevendo a sua em várias obras, sendo esta sem dúvida uma das mais interessantes.
1 Commentário
Estou lendo este livro. O segundo q leio da autora, o primeiro foi COMER REZAR E AMAR. Amo estilo desenvolto e simples que ela tem de fazer chegar syas ideias aos leitores. Recomendo! Assim q acabar de ler este q deve ser ainda nesta semana, vou tentar achar o outro dela COMPROMETIDA. q deve ser tb muito bom. Eh isto. Existem possibilidades de criaçao e boas ideias por todos os cantos, vamos permitir ser o canal para manifesta-las. Gratidao Gratidao Gratidao!!!