Beatrice Alemagna é uma autora e ilustradora que já nos habitou a excelentes livros, com uma qualidade inigualável, e este “A Gigantesca Pequena Coisa” (Orfeu Negro, 2024) volta a encantar-nos.
Tudo começa num dia de verão, com uma coisa mesmo ao lado dos pés do Sebastião que uma menina tenta apanhar, como se de uma mosca se tratasse. A senhora do crocodilo fica à porta, à espera; outras pessoas cruzam-se com ela, no meio da chuva; um senhor mais velho acaba por encontrá-la dentro de um floco de neve. Muitos decidem procurá-la, mas parece impossível retê-la. Às vezes está ali, bem perto de nós, mesmo à nossa frente, mas não a conseguimos ver. Uns tentam comprá-la, outros manifestam receio. Afinal, que coisa é esta, que todos procuramos e nem sempre encontramos?

Beatrice Alemagna constrói um álbum maravilhosamente bem narrado sobre uma pequena – mas simultaneamente gigantesca – coisa, que só no final do livro se vê desvendada. Num crescendo de curiosidade, o leitor depara-se com uma narrativa poética, belíssima, elegante, inquietante e provocadora sobre a infância – e de como esta está presente no decorrer da vida -, mas também da vivência do instante, do mistério e do invisível. Numa entrevista, Beatrice Alemagna afirmou que a “filosofia também está escondida em histórias engraçadas”, e neste magnífico álbum há também uma extraordinária exploração de um conceito filosófico.
O traço peculiar e o recurso a técnicas mistas resultam num trabalho de ilustração singular, único, que abraça ternamente o texto, ampliando o seu significado. Um livro encantador. Maravilhoso, belíssimo, delicioso e perguntador.

Beatrice Alemagna é uma conhecida autora/ilustradora italiana, com dezenas de álbuns publicados, traduzidos e premiados por todo o mundo, incluindo o Prémio Andersen, a Medalha de Ouro para Arte Original da Society of Illustrators e quatro nomeações consecutivas para o Astrid Lindgren Memorial Award. Estudou Design Gráfico na ISIA Urbino e, em 1997, mudou-se para Paris, onde actualmente vive. Durante mais de dez anos, trabalhou como designer gráfica para o Centro Pompidou. Nas suas histórias encontramos a infância, a descoberta das pequenas coisas e sua importância, a partida e a viagem, a fragilidade e a força, a aceitação de quem somos. “A Gigantesca Pequena Coisa” foi premiada pela revista Crescer como melhor livro ilustrado em 2014.
Sem Comentários