Em 2013, Eleanor Catton tornou-se a autora mais jovem a receber o Man Booker Prize com “Os Luminares” (ler crítica). Um romance com pinta vitoriana e cheio de armadilhas, que oferecia ao leitor um misto de thriller e romance histórico, que incluia uma corrida ao ouro, tráfico de ópio prostituição de luxo e múltiplas expiações do passado pelo meio.
Dez anos depois chegou às livrarias “A Floresta de Birnam” (Bertrand Editora, 2023), que troca o formato de puzzle do livro anterior para nos lançar o desafio de reflectir sobre a moralidade e o poder de escolha, colocando frente a frente a ecologia de guerrilha e o capitalismo (aparentemente) mais fofinho.
O título do livro refere-se a colectivo de cultivo de guerrilha, que a enigmática Mira Bunting, criadora de múltiplos pseudónimos e identidades, fundou há cinco anos atrás na Nova Zelândia. Oficialmente, o grupo cultiva dezassete lotes de terra espalhados pela cidade, alguns em jardins de escolas primárias ou lares e, em troca do acesso ao espaço e ao uso de água, os anfitriões recebem metade das colheitas. Ninguém no grupo é pago, e a sugestão de Shelley – uma das integrantes do colectivo, qualquer coisa como o braço direito invisível de Mira -, de lançarem um serviço de subscrição mensal com uma caixa de produtos agrícolas nunca aconteceu, apesar do aparente interesse.
Mira pretende que o grupo se torne auto-suficiente e, para tal, talvez possa contribuir um deslizamento junto ao desfiladeiro de Korowai, que cortou a passagem para a cidade de Thorndike e obrigou a uma evacuação, fazendo com que uma grande quinta ficasse abandonada, numa floresta que era agora “uma start-up, uma pop-up, a invenção de «criativos»; era orgânico, era local; era um bocadinho como a Uber; um bocadinho como o Airbnb”.
Porém, quando o colectivo se prepara para lançar a semente à terra, depara-se com a presença de um multi-milionário norte-americano que enriqueceu na área das novas tecnologias, mas que acaba por autorizar que o colectivo se instale na quinta que acabou de comprar, e isto sem ter de devolver qualquer parte da colheira. A colisão entre estes dois mundos – Ideologia vs. Capitalismo – irá abalar todo o grupo, fazendo com que por entre a ideia de colectivo comecem a surgir as ambições e os interesses pessoais, questionando cada um sobre a (sua) moralidade.
Eleanor Catton é uma mestre da narrativa, desafiando o leitor a mergulhar neste thriller político onde se fala de alterações climáticas, de novas tecnologias ou da liberdade de expressão, para no final lhe deixar com a seguinte pergunta: de quantos valores está disposto a adbicar em nome da sobrevivência. Brilhante livro, talvez ainda melhor que “Os Luminares”.
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