Publicado originalmente em 2019, “A Fera do Palácio” (Porto Editora, 2020) será, provavelmente, o livro de David Walliams menos “iluminado”, no sentido literal e eléctrico do termo, com uma costela Orwelliana e desse monólito literário intitulado “1984”.
Estamos numa Inglaterra distópica, no ano de 2120, país que não vê luz do sol há cinquenta anos. O governo foi há muito derrubado, e o rei governa a partir de Buckingham, agora uma fortaleza da qual ninguém pode entrar ou sair. É nessa fortaleza que vive Alfredo, um rapaz de 12 anos, “uma criança pálida como a neve e magra como um palito”, o apontado sucessor do rei e um leitor fervoroso, sobretudo de livros de História. Um reino do qual nunca viu um vislumbre, uma vez que nos seus doze anos de existência nunca abandonou o palácio.
Londres vive tempos de guerra e pobreza, com explosões e insurrecções por toda a parte, uma cidade onde a bandeira da Union Jack foi substituída por uma outra, negra com um grifo dourado ao centro. Para além da não existência de governo, não há também políticos ou polícia, estando a aplicação da lei a cargo do exército pessoal do rei. Um rei que parece adormecido e nas mãos do Lorde Protector, o seu conselheiro íntimo, que parece ter uma agenda escondida controlando todos os movimentos através do Olho Omnividente, que a todos vigia – o telecrã lá do sítio.
Quando a mãe de Alfredo se vê atirada para a Torre dos Traidores, Alfredo terá de se fazer um homenzinho e procurar o herói enterrado bem fundo dentro de si. Mais um livro com o toque Dickensiano de Wallace, aqui entre muitos elogios à rainha Isabel II, magia negra e alguns reparos às “pessoas da Terra”, que tomaram pouco conta do que era seu, contaminando rios e escavando o planeta até este ter ficado oco.
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