Há uns anos valentes, chegaram às livrarias nacionais uma série de títulos da colecção Aventuras Fantásticas que, encarnando o espírito Dungeons & Dragons, colocavam o leitor no papel de aventureiro, decidindo os caminhos a seguir e as acções a tomar, precisando para isso apenas de dois dados, um lápis e uma borracha.
Fazendo render o peixe que a série trouxe do mar alto às toneladas, “A Casa de Papel – Escape Book: O Diário do Professor” (Planeta, 2020) encarna o espírito de um livro-jogo, à semelhança das Aventuras Fantásticas. Porém, ao invés de escolher o caminho a seguir, cabe ao leitor ajudar o protagonista a desvendar uma série de enigmas, que o conduzirão a um final que envolve, ainda que ficcionalmente, uma porrada de dinheiro.
No centro do livro está Jero Lamarca, que passou parte da infância e da adolescência no Hospital de San Juan de Dios, onde se tornou bom amigo e companheiro de jogos de Sergio Marquina, que ficou para a história dos assaltos conhecido como o Professor. Uma cumplicidade que tornava Sergio o idealista de jogos e Jero o mestre dos passarinhos de papel, numa amizade que, como tantas outras, ficou em suspensão devido ao tempo e àquilo que fazemos com ele.
Em termos temporais, o livro situa-se algum tempo depois do roubo milionário à Casa da Moeda e do Papel. Enquanto tratava de fechar a oficina de motas, Jero recebe uma encomenda com uma carta sem assinatura, e que traz também um caderno, uma caixa fechada com um cadeado, uma fotografia de uma máscara de Dalí e um passarinho vermelho.
Ao leitor cabe pegar na tesoura e recortar os muitos passarinhos de papel que aguardam, tranquilos, nas páginas finais, peças que irão ajudar a resolver os bem desenhados enigmas, cada um deles correspondente a um código de um nome de uma cidade. Se por acaso der por si a arrancar tufos de cabelo, poderá, como quem não quer a coisa, espreitar as pistas dadas para cada enigma, que o voltarão a colocar em jogo. Se mesmo assim não se acender a luz, poderá ver a solução e passar para o enigma seguinte – o melhor é não contar ao Professor.
Mais do que a narrativa que, para quem não viu a série, oferecerá uma boa quantidade de spoilers, “A Casa de Papel – Escape Book: O Diário do Professor” vale mesmo pelos enigmas muito bem desenhados, fazendo deste livro um jogo sem tabuleiro destinado a dar trabalhinho à massa cinzenta. Se gosta de puzzles e enigmas, tem aqui garantidas umas boas horas de entretenimento.
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