Londres, 1983. Aos 25 anos, William Beckwith é um jovem aristocrata que terminou os estudos em Oxford e, desde então, vive em plena ociosidade. É atraente, culto, sagaz, exuberantemente gay e escandalosamente sedutor. O seu passatempo favorito é nadar, “flutuar ao sabor da água” nas piscinas do Corinthian Club, um clube londrino situado na Great Russell Street, obra-prima do arquitecto de Frank Orme e conhecido pela sua atmosfera homoerótica.
Um dia, ao passar pelo deprimente jardim de estilo italiano, dirige-se “num passo muito lento até às traseiras do pavilhão, onde há urinóis públicos enfiados na ladeira, coberta de hera e obscurecida pelos pinheiros por solitárias, que dá para a estrada principal, e que são intensamente frequentados por solitárias criaturas de meia-idade”. É neste espaço “fortemente higiénico e surpreendentemente doce” que salva a vida de um homem mais velho, envolvido num engate. O homem de provecta idade revela ser Charles, ou Lord Nantwich, um tipo enigmático, igualmente gay e suficientemente colunável para aparecer nos jornais.
Charles e William frequentam o mesmo clube, onde se reencontram. A amizade entre os dois cresce, e Charles pede ao jovem para escrever a sua biografia entregando-lhe os seus diários, onde confessa o melhor e o pior da sua multifacetada e emocionante vida, repleta de segredos. É com alguma renitência que William aceita lê-los, mas esta leitura permite descobertas inesperadas. Poder-se-ia sintetizar “A Biblioteca da Piscina” (Dom Quixote, 2021) desta forma, mas muito, mesmo muito, ficaria por dizer.
Este primeiro livro de Alan Hollinghurst é poderoso, excepcional, erótico e erudito. Fantasticamente bem escrito, sem falsos moralismos e bem-disposto. O texto oferece diálogos e perspectivas intergeracionais, possibilitando o questionamento sobre a história gay não convencional e retratando a homossexualidade na cultura inglesa entre os anos 50 e 80, onde os costumes, a homofobia, os preconceitos e as questões sobre identidade e a sexualidade masculina gay marcaram presença. Ao longo da leitura, não nos cruzamos com outras pessoas heterossexuais, nem tão pouco com mulheres, reforçando a imagem de William Beckwith, sempre rodeado por homens e dos seus amados, jovens homens negros. “A Biblioteca da Piscina é um romance sobre a vida gay, essa “vida em que a felicidade pode depender do fugaz olhar de um estranho que captamos e retribuímos”.
Alan Hollinghurst nasceu em Shroud, Inglaterra, em 1954, e estudou em Oxford. “A Biblioteca da Piscina”, conquistou o Somerset Maugham Award em 1989, valendo ao seu autor um lugar entre os Melhores Jovens Romancistas Britânicos segundo a revista Granta, em 1993. Seguiu-se “The Folding Star”, que foi finalista do Booker Prize e vencedor do James Tait Black Memorial Prize. A sua consagração definitiva deu-se em 2004, quando “A Linha da Beleza” foi galardoado com o Man Booker Prize, tendo ainda sido adaptado para a televisão pela BBC.
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