Reza a história da literatura que, pouco tempo após a publicação de “A Recompensa do Soldado”, romance de estreia publicado em 1926, William Faulkner escreveu o seu primeiro e único livro para crianças.
Em “A Árvore dos Desejos” (Ponto de Fuga, 2017) há personagens que encolhem, árvores com poderes mágicos ou póneis que saem dentro de uma sacola que poderia ter sido emprestada pelo Sport Billy, num livro que antecipa vários recursos narrativos e estilísticos que sairão mais tarde da cartola do autor.
O livro foi sendo oferecido por Faulkner ao longo dos anos a algumas crianças, até que a Random House o publicou pela primeira vez em 1964, numa tiragem de 500 exemplares ilustrada por Don Bolognese, que se diz magnífica. Três anos depois teve direito a uma edição massiva, edição essa que serviu de base a este lançamento em capa dura pela Ponto de Fuga, que manteve as ilustrações de Bolognese.
Alice é a menina dos anos, que será visitada por Maurice, um esmerado Sport Billy que até dentes postiços consegue fazer aparecer. Juntos e levando pelo caminho mais alguns passageiros, embarcarão numa aventura que parece quer fazer jus ao lema de que no dia de anos tudo pode acontecer, onde tentarão chegar junto de uma mítica árvore dos desejos que lhes possa conceder um passaporte para a felicidade. Por aqui passam temas como a fantasia, a religião, a repressão ou a clivagem entre classes sociais, numa história que não atingiu no universo infantil a mesma importância que o autor teve no mundo da literatura. Vale, sobretudo, como objecto de colecção.
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