“Não compreendia o motivo, mas pressentia estar prestes a cometer um terrível erro, uma decisão que o comprometeria para sempre. Mas não conseguiu ignorar o sentido de dever. Estava diante de um rei moribundo, um homem que apelava à sua honra. E nada como a honra, em momentos tão obscuros, tornava os seres humanos semelhantes a anjos. Foi assim que, enquanto Jang Blannen exalava o último suspiro, Maynard de Rocheblanche jurou guardar o seu segredo.”
Marcello Simoni volta a dar cartas no romance histórico, com o início de uma trilogia que promete agarrar os leitores ávidos de intrigas e mistérios passados na idade medieval. “A Abadia dos Cem Pecados” (Clube do Autor, 2016) transporta-nos para o ano de 1346, uma época marcada não só pela luta pela supremacia política, com a guerra entre França e Inglaterra, mas também pelo forte domínio religioso. É precisamente desta combinação que nasce o enredo desta história, que nos leva pelos meandros obscuros da luta por uma poderosa relíquia.
Após a derrota francesa em Crécy e em pleno campo de batalha, rodeado de soldados mortos e a lutar pela sobrevivência, o cavaleiro francês Maynard de Rocheblanch encontra Jang Blannen, rei da Boémia, que no leito da morte lhe entrega um enigmático pergaminho. Enquanto guardião daquele valioso documento, que não deve revelar a ninguém, Maynard vê-se envolvido numa intriga “bem mais ampla e complexa do que poderia ter imaginado”. Cedo a promessa selada se torna numa busca incessante pela revelação do enigma Lapiis Exilii, exigindo a Maynard fugir de altas instâncias, como o cardeal de Avinhão e o príncipe Karel do Luxemburgo, que dele se pretendem apoderar.
Para além do mistério constante, Marcello Simoni presenteia-nos com descrições que nos fazem revisitar outro tempo, outras gentes e outros costumes: a riqueza arquitectónica, com a descrição de imponentes abadias, catedrais e dos frescos que aí se podiam contemplar; o retrato fiel da vida monástica (e também laica), com lugar para pecados como a cobiça e a luxúria; a atmosfera de Ferrara, onde o autor cresceu e aqui tornou palco da narrativa. Além de bem descritos, os ambientes são extremamente visuais e envolventes, fazendo-nos deambular pelas ruas lado a lado com os protagonistas, em viagens que chegam a durar semanas ou até meses.
Outro ponto positivo é sem dúvida as personagens, que não só são bem construídas – com um lado emocional e acontecimentos do seu passado que justificam as atitudes tomadas – como, também, introduzidas de forma crível e harmoniosamente entrelaçada na narrativa. Mas não se pense que só de homens se faz a história: Eudeline, irmã de Maynard e abadessa no convento de Sainte-Balsamie, é uma personagem feminina que nos conquista pela sua coragem, força e garra, capaz de ensinar às mulheres, em plena época medieval, que “uma mulher não representa apenas um instrumento de prazer ou de procriação, e que uma vida dedicada ao claustro podia ser menos estéril do que uma existência decorrida à mercê de um homem.”
Não fosse Marcello Simoni ser considerado por muitos “um especialista em romances históricos“, vemos aqui um equilíbrio irrepreensível entre factos históricos e ficção. Sem ser maçador mas de forma completa, vai-nos guiando pelo desenrolar da trama, fazendo questão de esclarecer, em momento oportuno, o que é real e o que é fruto da sua imaginação, deixando ainda algumas fontes que comprovam a fidelidade da reconstrução histórica no seu trabalho.
O leitor pode esperar ainda uma pitada de astronomia, com direito a profecias e cavaleiros do Apocalipse à mistura, que agradarão especialmente aos fãs de thrillers históricos. Tudo numa escrita fluída e adequada à época retratada, que inclui frases em latim em abundância, infelizmente nem sempre traduzidas.
As pequenas revelações que vão pautando o ritmo da narrativa fazem-nos ansiar por um desfecho… que não chega. No fim, o leitor é deixado num sentimento agridoce, apercebendo-se facilmente que “A Abadia dos Cem Pecados” é uma introdução a um enredo que se prevê, nos próximos dois volumes, ainda mais complexo. Falar das misteriosas questões deixadas em aberto seria, segundo o autor, aniquilar o sentido da descoberta – “E isto, no âmbito da ficção, equivalia a um pecado mortal”. Ficamos então à espera!
1 Commentário
Marcelo Simoni tem um defeito horrível : é incapaz de terminar os seus livros, primeiro um mercador de livros malditos, que não negocia livros e os que encontra nem são malditos, depois a biblioteca perdida do alquimista, que nem está perdida e nem é do alquimista, o labirinto do fim do mundo, onde o labirinto é como descreve o romance e o fim do mundo não existe ! E finalmente a Ilha da Relíquia Sagrada, cuja relíquia encontrada na Ilha de Montecristo é uma mão mumificada com um prego ( como se os Romanos não tivessem crucificado milhões ) que abalaria toda a Estrutura Católica (?), e ainda incendia numerosos documentos que se encontravam na mesma tumba ( e fim ) ! Não encontrou erros ?, que tal carro e lanterna no Século XVI ? E a salada de frutas na tradução mineira-vatapá-feijoada-bacalhau- paella ??? Depois da página 200 o Lusitanismo corre solto como outeiro , urze , tencionava, está/estava a, falta de acentuação, exclusão total dos artigos, falta de crases, aspas e vírgulas ( importantíssimas ) …. além da mistura de assuntos sem separação ou distinção de Capítulos ( todos parecem embaralhados no final )Em resumo, uma grande perda de tempo e recursos ( papel e tinta ) Se melhorasse, ao invés de vender 2 milhões poderia chegar a 20 milhões !!! Nem os Editores leram !!! Não dá para se arriscar com mais esse romance, sem fim !!!