Amin Maalouf, Paul Lynch e Tracie Hall marcam presença na edição de 2025 do 5L – Festival Internacional de Literatura e Língua Portuguesa de Lisboa, que se irá realizar entre os dias 9 e 11 de Maio. O foco vai estar nas ameaças às democracias e nos desafios da Inteligência Artificial, numa reflexão sobre o diálogo entre “Língua, Literatura e Inovação”. O programa contempla ainda concertos, conversas, espectáculos, exposições, oficinas e palestras.
Pela primeira vez, o 5L terá como base o “Beato Innovation District”, com um programa a cargo da Rede de Bibliotecas de Lisboa que procurará responder às questões que as novas tecnologias colocam às áreas da comunicação e da palavra escrita.
“Nesta edição, ousámos um pouco mais e pensámos num programa dirigido a pessoas que trabalham na área da cultura. O Festival Lisboa 5L deixa aqui o seu pequeno contributo para um caminho de reflexão, de capacitação, de combate à desinformação e a outras formas de censura, nestes dias que, sendo reais, muitas vezes nos parecem ficção“, afirmou Edite Guimarães, chefe de divisão da rede de bibliotecas, na apresentação do 5L, que decorreu na passada semana.

No dia de arranque do festival – 9 de Maio – terá lugar uma palestra subordinada ao tema “Desinformação, censura de livros e o fim da democracia“, a cargo da bibliotecária e curadora norte-americana Tracie Hall, defensora das artes que em 2023 recebeu a medalha para a liberdade de expressão do Instituto Franklin D. Roosevelt. Tracie Hall vai debruçar-se sobre o facto de, em todo o mundo, democracias sólidas estarem a debater-se com o aumento de informação deliberadamente enganadora, com a limitação do acesso a livros e à leitura, e com legislação e propaganda que tornam menos acessível uma educação equitativa, analisando as suas consequências e quem beneficia com isso.
Segue-se, no mesmo dia, uma conversa sobre “Inteligência artificial na escrita e educação – pontes para o futuro“. Patrícia Anzini, Beatriz Santana e Inês Anta de Barros vão debater como a escrita sobrevive a esta tecnologia, estando a moderação entregue a Jorge Amorim, especialista em Ciência Cognitiva e Inteligência Artificial.
A fechar o dia teremos o espectáculo multimédia “São feitas de palavras as palavras”, com o grupo de percussão Drumming, a actriz Beatriz Batarda e o autor e ilustrador António Jorge Gonçalves, a que se seguirá um DJ set pela Associação Rimas ao Minuto.

No dia 10, o destaque maior vai para a presença do escritor libano-francês Amin Maalouf, que conversará com o jornalista José Mário Silva sobre as promessas do progresso tecnológico e o risco do “naufrágio das civilizações“. Ainda no mesmo dia, teremos palestras sobre literatura experimental portuguesa, o português do futuro e as origens da faculdade da linguagem.
No universo dos debates, António Feijó e Pedro Mexia debatem se ainda há vanguardas literárias; João Paulo Silvestre e Isabel Macedo falam sobre a resistência aos acordos ortográficos; Carlos Fiolhais, Luís Filipe Silva e Rui Cardoso Martins debruçam-se sobre se a ficção científica já deixou de ser ficção; os linguistas António Coutinho e João Veloso discutem a linguagem inclusiva; Valério Romão, Sandra Guerreiro Dias e Sal Nunkachov vão falar sobre arte experimental e poesia.
Ainda no dia 10, nota para o debate entre humorista Ricardo Araújo Pereira e o editor Francisco José Viegas, sobre o ludismo e a forma como este movimento – trabalhadores ingleses que na Revolução Industrial se opuseram à substituição do trabalho manual pelos teares – poderá ter um paralelo no actual mundo da escrita.
O segundo dia do 5L recebe também dois concertos: o primeiro – narrativo – será interpretado por Ana Sofia Paiva, Jorge Cunha Machado e Simon Franke, o segundo, um espectáculo dos Lisbon Poetry Orchestra.

No último dia do 5L – 11 de Maio -, o grande destaque vai para a conversa entre o escritor irlandês Paul Lynch – vencedor do Prémio Booker 2023 com o romance “Canção do Profeta” – com a crítica literária Isabel Lucas. O escritor mexicano Juan Villoro, autor do ensaio “Não sou um robô”, vai estar à conversa com o jornalista José Alberto de Carvalho sobre a influência dos algoritmos nos dias de hoje, a partir da ideia de que “somos a primeira geração de gente a quem é exigido que faça prova, perante uma máquina, de pertencer à espécie humana“.
“A ficção distópica a imaginar desastres“, por Alberto Manguel, e “A língua portuguesa na era da IA“, por António Horta Branco, são as duas palestras marcadas para este dia. O tópico “O controlo da linguagem – instrumento de repressão ideológica típico das distopias literárias – deixou o universo da ficção para se tornar uma realidade inquietante” serve de mote para um debate com várias especialistas em linguagem.
Ainda a marcar o terceiro e último dia do festival, estão previstos os debates “O futuro da literatura é o seu passado“, com José Pacheco Pereira e Abel Barros Baptista; “Reler Utopia de Thomas More“, com Rui Tavares e Miguel Morgado; “A língua da máquina“, com Arlindo Oliveira e Robert Clowes; “O que só aos humanos é possível“, com Dulce Maria Cardoso e Lídia Jorge; e “O ofício da língua“, centrado no uso da palavra no rap, com Samuel Úria e Capicua. O festival encerra com um concerto de Ana Lua Caiano.
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