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Gonçalo Waddington

Por Pedro Miguel Silva · Em 23/04/2015

No dia em que o filme “Capitão Falcão” chega a mais de cinquenta salas de cinema do país, fazendo de Gonçalo Waddington o primeiro homem a vestir a pele – ou, neste caso, o fato – do primeiro super-herói português, o Deus Me Livro publica uma entrevista com o actor, encenador, realizador, dramaturgo, argumentista e produtor. Muito ficou por perguntar numa curta viagem que tenta esboçar o retrato de uma das mais inventivas, divertidas, intrigantes e desafiadoras personagens portuguesas. E que tem, em “Albertine, o Continente Celeste”, a sua estrela polar – a peça de Gonçalo Waddington, co-produzida pelo Teatro Nacional São João (Porto) e que este ano chegou ao papel através da colecção Palco, uma colaboração da editora Abysmo com o Teatro Municipal São Luiz (Lisboa). E Proust, pois claro.

 

Actor, encenador, realizador, dramaturgo, argumentista e produtor. Qual destas muitas peles que tens vestido te assenta melhor – ou, se preferires, em qual delas te sentes mais feliz?

A verdade é que a insatisfação – ou o desassossego – que me acompanha desde tenra idade me tem levado à procura de novas aventuras. Quando penso no meu trabalho como actor nestes últimos cinco ou seis anos, não deixo de sentir que a evolução positiva se deve precisamente à minha incursão por outros caminhos, tais como a escrita e a encenação. Sou feliz procurando, perdendo-me e debatendo-me com novas aventuras profissionais.

É muito provável que as pessoas, sobretudo as mais novas, te associem mais à vertente menos séria da representação, isto olhando apenas para “O Último a Sair” e “Odisseia”. Bastará, porém, dar uma vista de olhos na tua já aprumada biografia para perceber que carregas contigo um passado de representação ao mais alto nível. O que preferes arrancar ao público: risos ou lágrimas?

Acho que podemos falar de qualidade, ou de uma certa exigência, vá, nas lágrimas ou nos risos que pretendo arrancar. Procuro fugir a tudo o que for demasiado fácil, isto porque acho, ou melhor, tenho a certeza, de que é tão difícil fazer chorar como fazer rir dentro de um padrão de exigência que fui depurando ao longo do tempo. Sabemos o quão fácil é arrancar uma lágrima ou uma gargalhada: basta vermos os programas da tarde de todos os canais generalistas, em que o apresentador tem sempre uma laracha para deleite do público. Ou quando contam a história de uma invisual – sim, porque os apresentadores sabem que se não se deve dizer cega. Muito menos ceguinha! – que perdeu dois dos seus sete filhos e o público, sempre tão diligente, desfaz-se imediatamente em lágrimas. O mesmo se passa nos últimos blockbusters de comédia estreados nas nossas salas, em algumas peças de teatro, nas telenovelas e na maior parte das séries televisivas.

Gonçalo Waddington, Abysmo

©Mário Melo Costa – Individeos

Como é assumir a grande responsabilidade de vestir a pele do Capitão Falcão, o primeiro super-herói português?

Não penso nisso. Tento fazer o melhor possível, dentro das minhas capacidades, para servir o realizador e o seu filme. Esta é a minha postura em todos os trabalhos, seja em teatro, cinema ou televisão. Talvez pense na questão da responsabilidade algum tempo depois de o filme estrear. Porque aí sim, com alguma distância posso reflectir sobre o que fiz mal, ou sobre aquilo que poderia ter melhorado. Muito poucas vezes penso no que fiz bem mas, o que fiz de mal, nunca me sai da cabeça.

Descreve-nos em poucas palavras a essência do Capitão Falcão.

Machista, misógino, racista, fascista, homofóbico, fudamentalista – enfim, um tipo desprezível.

Diz que o episódio piloto apresentado no Motelx irritou algumas pessoas, confirmas?

Irritou os machistas, os misóginos, os racistas, os fascistas, os homofóbicos e os fundamentalistas –  não consideres esta resposta uma resposta preguiçosa, por favor. É mesmo a leitura que faço dessas reacções, embora tenham sido em pequena escala.

Achas que as pessoas têm perdido o sentido de humor, ou que há uma certa dificuldade em distinguir o real do imaginário? Parece que aconteceu isso a muito boa gente aquando da passagem de “O Último a Sair” pelos pequenos ecrãs.

Acho que há uma tendência, cada vez mais aguda, para a omnipresença mediática: gente que não se coíbe de emitir uma opinião sobre todo e qualquer assunto, de preferência quando sabem pouco – ou mesmo nada – sobre esse assunto. Daí que, aquando da estreia de O Último a Sair, muita gente que apenas viu cinco ou dez minutos de um episódio – ou, pior, ouviu uma breve descrição do que se passou num dos episódios – não se absteve de condenar a RTP por produzir um Big Brother dos Famosos.

Abysmo, Gonçalo Waddington

©Take it Easy

De onde chega este teu fascínio e delírio com a física e a cosmologia tão vincados em “Albertine, o Continente Celeste”?

Sempre me fascinaram as questões da cosmologia, mas nunca tinha lido tanto e tão bem sobre o assunto como na pesquisa que fiz para esta peça. Isso deveu-se, sobretudo, à ajuda que tive do Prof. Dr. Pedro Gil Ferreira, Astrofísico e Investigador em Oxford, que me indicou alguns livros, artigos e publicações online, e ao Prof. Dr. Vincenzo Vitagliano, Investigador no CENTRA do IST, com quem conversei durante muitas horas e que, generosamente, respondeu a todas as minhas dúvidas. A vontade de aprofundar estes assuntos nasceu da análise à obra do Proust, Em Busca do Tempo Perdido. O Tempo tinha, forçosamente, de ser dissecado. E, se quisermos saber “o que é” o Tempo, vamos parar à astrofísica, à cosmologia e à física teórica. Se o Proust escrevesse Em busca do tempo perdido hoje, teria todo um ‘novo mundo’ sobre o que é o Tempo, não só do ponto de vista poético como também filosófico. Embora ele aborde de raspão temas como o cosmos, os astros e a biologia do ponto de vista darwiniano, surgiu todo um espectro de temas na astrofísica , na cosmologia e na mecânica quântica que lidam com o tempo. Como só concebo a abordagem do tema a partir de ‘hoje’, estas ferramentas científicas seriam o material do Marcel que eu imagino. O autor da personagem do narrador – e da personagem Albertine – utiliza esses temas como assuntos de soirée, propondo uma reflexão com o público.

Não receaste que o público se intimidasse com o primeiro e difícil acto e abandonasse a sala – ou, neste caso, pousasse o livro?

Em relação ao público, não. O actor Tiago Rodrigues era brilhante em toda a peça, tal como a Carla Maciel. Em relação aos leitores, não consigo sequer responder. Mas se pensarmos na obra do Proust, Em Busca do Tempo Perdido – como é óbvio, a minha peça não está sequer na mesma liga, não faço qualquer tipo de comparação, ser-me-ia impossível! –, quantas pessoas pararam logo a meio do primeiro volume? Quantas barbaridades foram escritas sobre essa obra – chato, maçador, name-dropper, pedante? O mesmo se poderá perguntar sobre as obras do Joyce, do Beckett, do Pynchon…

Abysmo, Gonçalo Waddington, Albertine o Continente CelesteLeste os sete volumes do Em Busca do Tempo Perdido ou ficaste pela versão reduzida?

Um dos grandes problemas da lágrima fácil e do humor fácil é o “ficar pela rama”. Por exemplo, quando alguns humoristas da nossa praça querem fazer piadas com o Cinema Português, referem invariavelmente os filmes do Manuel de Oliveira, que são “parados”. Ou o filme Branca de Neve, do João César Monteiro, que era “todo a negro”. Nunca se deram ao trabalho de ver os filmes do Pedro Costa, do Miguel Gomes, do Hugo Vieira da Silva, do José Álvaro Morais, do João Salaviza e toda a obra dos já mencionados Manuel de Oliveira e João César Monteiro. O mesmo acontece com maus argumentistas, maus realizadores, maus escritores e maus encenadores. Acho que quem quer escrever a partir de uma obra ou debruçar-se sobre determinado assunto tem, dentro das suas capacidades, de dominar o assunto e/ou a obra.  Não sei se existe uma versão reduzida da obra. Se existe, desconheço. Se usasse uma “versão reduzida” como ponto de partida para a escrita da peça, estaria escrito na sinopse: “… a partir da “versão reduzida” da obra Em Busca do Tempo Perdido”.

Como tentarias convencer um leitor a atirar-se a uma missão tão impossível quanto a de ler os sete volumes de uma assentada? Isso é coisa para demorar quantos anos?

Eu li a obra em menos de um ano. Pelo meio ainda li algumas obras de cosmologia e astrofísica. Mas é preciso dizer que a leitura destas obras era o meu trabalho. Além de ensaios e rodagens eu passava muitas horas por dia na biblioteca a ler. Porque, repito, esse era na altura o meu trabalho. Quem quiser ler a obra e não o fizer por “trabalho”, irá com certeza demorar muito mais. Irá ler menos horas por dia e, muito provavelmente, ler outros livros pelo meio.

No livro transmites a imagem de Proust como um tipo que foi grande naquilo que escreveu mas uma nódoa nas relações pessoais. Qualquer coisa como um arrogante intelectual. Era chato, o Proust?

Li a biografia Marcel Proust, A Life, do Edmund White, O Cânone Ocidental, do Harold Bloom e alguns artigos que me foram sugeridos. Mas a imagem que transmito do Proust é a minha interpretação do Marcel da obra Em Busca do Tempo Perdido. E na obra – na minha opinião – sim, ele é uma nódoa nas relações pessoais. Mas faz por isso, quer sofrer. Ele é muito competente a sofrer por amor mas um incompetente na “arte de amar”. É muito fácil apelidar alguém de “arrogante intelectual” quando não estamos à altura. E eu, o autor da peça, não estou à altura do Proust. Quando comecei a ler a obra ele aparenta ser um name-dropper – tantos nomes de pintores, poetas, escultores, compositores, filósofos, políticos -, é um pedante. Deveria ser impossível estar na mesma mesa com aquele homem. Ele iria falar e falar e falar e falar e nunca iria ouvir os outros. “Espera lá, Gonçalo, isso é o Charlus!”, descubro eu mais à frente na obra. No entanto, é referido em muitos livros e artigos que o “verdadeiro” Marcel Proust era um excelente ouvinte. Mas o Marcel que eu apresento é o Marcel que fala como Charlus, ou como Swann, porque ele é, de facto, todos eles. Ele viveu-os e escreveu-os. E é esse o meu Marcel, o Proust “Marcel-Charlus-Swann”.

A peça anda à volta dos conceitos de memória e de tempo, da essência e da origem. Tentaste escrever sobre a diferença ou confronto entre aquilo que se escreve e o que se recorda? Serão assim tão diferentes?

Não, não são diferentes, na minha opinião. Até porque, acho eu, o que imaginamos ou pensamos que estamos a imaginar, poderá ser apenas fruto de memórias que vêm à tona quando submergimos na escrita. E essas memórias poderão ser a fusão de várias memórias, o que faz com com que não tenhamos a certeza de termos sido nós a “viver” o episódio que emergiu, se não será, de facto, imaginação “pura”.

Albertine, Abysmo, Gonçalo Waddington

©Vitorino Coragem

Albertine é uma verdadeira força da natureza – um continente -, que aponta a Proust o dedo por todos os seus fracassos, indecisões e mentiras. Sobretudo por este a ter morto no campo da literatura. É ela a alma da peça?

Ela é o “contraditório”. Ela é quem me permite questionar o que Proust escreveu sobre Albertine – e não do motorista Alfred Agostinelli, “ a sua paixão malograda”, usando as palavras de António Mega Ferreira. Porque não fazê-la renascer e confrontar o seu criador, usando as palavras que ele próprio escreveu? Se ela é a alma da peça? Talvez seja, sim.

Pedindo uma tua frase de empréstimo, porque é que nos lembramos do passado e não do futuro?

A frase não é minha, é, desde há muito, de todos os astrofísicos, físicos teóricos e cosmólogos. De acordo com o que eu li, a direcção da seta do tempo estará ligada ao aumento da entropia que está sempre a aumentar. Portanto, haverá uma direcção do tempo. O que torna impossível recordarmo-nos do futuro. Mas isto sou eu a escudar-me na pouca ciência que li – porque é sempre pouca. Para responder – melhor? – à pergunta cito uma passagem do Javier Marías, num artigo intitulado “Sete razões para não escrever romances e uma para escrevê-los”. Neste caso, cito a única razão para escrevê-los:

“PRIMEIRA E ÚLTIMA – Escrevê-los permite ao romancista viver boa parte de seu tempo instalado na ficção, seguramente o único lugar suportável, ou o que o é mais. Isso quer dizer que lhe permite viver no reino do que pôde ser e nunca foi, por isso mesmo no território do que ainda é possível, do que sempre estará por ser cumprido, do que ainda não está descartado por já ter acontecido ou porque se sabe que nunca ocorrerá. O romancista realista, ou que assim é chamado, aquele que ao escrever segue instalado e vivendo no território daquilo que é e acontece, é o que confundiu sua atividade com a do cronista, a do repórter ou a do documentarista. O romancista verdadeiro não reflete a realidade, mas sim a irrealidade, entendendo por esta não a inverossimilhança nem o fantástico, mas simplesmente o que poderia ter acontecido e não aconteceu, o contrário dos fatos, dos acontecimentos, dos dados e dos feitos, o contrário “do que acontece”. Aquilo que “só” é possível segue sendo possível, eternamente possível em qualquer época e em qualquer lugar, e por isso se pode ler ainda hoje “Dom Quixote” ou “Madame Bovary”, alguém pode viver uma temporada com eles dando-lhes crédito, ou seja, não considerando-os impossíveis nem por serem já ultrapassados, ou o que dá no mesmo, por consabidos. A Espanha de 1600 que conhecemos e que hoje conta para nós é a de Cervantes e não outra, a de um livro irreal sobre livros irreais e sobre um anacrônico cavaleiro andante saído deles, e não do que era ou foi a realidade: a assim chamada Espanha de 1600 não existe, ainda que é de se supor que tenha existido; assim como nada existe ou conta mais sobre a França de 1900 que aquela que Proust decidiu incluir em sua obra de ficção, a única que hoje conhecemos. Antes havia dito que a ficção é o lugar mais suportável. Assim é porque traz diversão e consolo aos que a frequentam, mas também por algo a mais, a saber: porque além de ser isso, ficção presente, é também o futuro possível da realidade. E ainda que nada tenha que ver com a imortalidade pessoal, isso quer dizer que para cada romancista há uma possibilidade –infinitesimal, mas uma possibilidade– de que o que ele escreva esteja configurando e ao mesmo tempo seja esse futuro que ele nunca verá.”

Abysmo, Albertine, Gonçalo Waddington

©Filmes do Tejo

Na peça são atiradas constantemente frases para o público. Acreditas que o Teatro, ao contrário daquilo que é permitido ao cinema, deve manter o espectador em constante tensão?

No cinema – embora esta afirmação seja discutível – também é permitido atirar frases ao público. Mas, em relação à tensão, acho que devemos manter o espectador atento e “preso”, o que no Teatro é mais complicado do que no Cinema, devido às diferenças no campo da manipulação do som e da imagem. Mas tensão, só, não. O público deve sentir um arco emocional atravessar-se dentro de si. Arco esse que está no texto, nos actores e na encenação.

Pegando na deixa da peça que encenaste e escreveste com o Tiago Rodrigues, o que se leva desta vida?

As memórias. Espero não perder a memória. Espero não me esquecer de quem sempre gostei e do que fiz.

AbysmoAlbertine o Continente CelesteGonçalo Waddington

Pedro Miguel Silva

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