Se tivéssemos de descrever o livro escrito a meias por John Green e David Levithan em apenas uma palavra, provavelmente a escolha recairia em “fofinho”. Contudo, como nos habituou em escritos anteriores, John Green é praticante de uma escrita emocional sem ponta de pieguice, estacionada numa das fases mais animadoras e desesperadas da existência: a adolescência.
Em “Will e Will” (Asa, 2014), a dupla Green/Levithan conta-nos a história de dois adolescentes que, apesar de partilharem o mesmo nome, estão nos antípodas da existência: Will Grayson é um jovem que se habituou a seguir duas regras muito bem definidas: não se importar com nada e calar a boca, um estado a apontar à quase invisibilidade. Bem ao contrário de Tiny Cooper, o seu melhor amigo, um jogador de futebol americano gay, enorme e com uma paixão louca por musicais; o outro Will trabalha numa farmácia para ajudar a mãe, sobretudo a comprar os medicamentos na própria farmácia onde trabalha. Está apaixonado por Isaac, que conhece apenas das conversas de chat que vai tendo ao longo do dia.
No dia em que o outro Will combina um encontro físico com Isaac, o destino aproxima os dois Will numa loja de brinquedos e outros produtos sexuais. A partir desse encontro fortuito terão as suas vidas praticamente sobrepostas, antes da chegada de uma epifania dupla. Pelo meio, um musical épico, um falso concerto de Neutral Milk Hotel – bem como uma merecida devoção pelo disco “In the aeroplane over the sea” – e uma história de amor existencial com muito intelecto. O amor adolescente servido com muita luxúria e uma dose generosa de comédia, marcas habituais da escrita de Green que, aqui, surge muito bem acompanhado.
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