Para quem tem seguido de perto as edições da Orfeu Negro, um dos grandes motivos para se fazer a festa tem sido, sem qualquer dúvida, a edição de alguns livros do ilustrador e designer Jon Klassen, entre os quais se encontram “Quero o Meu Chapéu”, “Este Chapéu Não é Meu” e “O Escuro“.
Nos dois primeiros títulos, escritos e ilustrados por Klassen, dominava um sentido de humor com forte propensão para o negro, onde a história decorria de forma sequencial, sempre em busca de um chapéu, até ao clique final que fazia regressar a personagem principal ao ponto de partida para recuperar o seu bem mais precioso. Já em “O Escuro”, escrito por Lemony Snicket e com ilustrações de Klassen, acompanhávamos uma criança e o seu combate contra um dos medos humanos mais primitivos.
Em ambos os casos, mesmo que situados nos antípodas das emoções humanas – e também nas cores, técnicas e perspectivas da ilustração -, mantinha-se uma grande expressividade dada às personagens – sobretudo nos olhares -, o uso de texturas e outros detalhes que transformavam os desenhos de Klassen numa imagem de marca, facilmente reconhecível em qualquer livro que tivesse a sua assinatura. Como é notório no recente “Uma Aventura Debaixo da Terra” (Orfeu Negro, 2015), uma aventura passada debaixo do solo com texto de Mac Barnett.
Manuel e João decidem, numa segunda-feira como todas as outras, cavar um buraco, concordando em parar apenas quando encontrassem uma coisa espectacular. Escavaram para baixo, para a esquerda, para a direita e, a certa altura, o buraco já era maior do que eles. Até que uma coisa espectacular aconteceu, algo que não estava nem nos seus melhores planos.
Com o singular humor visual de Jon Klassen, Mac Barnett leva-nos numa divertida e ziguezagueante aventura debaixo da terra, mostrando-nos que andar em círculos ou a mudar constantemente de direcção pode não ser a melhor estratégia para alcançar aquilo que desejamos. Haja antes persistência (o cão que o diga). Um deleite visual desenhado em tons de sépia.
Sem Comentários