O primeiro livro de contos de Frederico Pedreira, um jovem autor, mostra uma escrita segura e limpa, invulgar em primeiras obras.
“Um bárbaro em casa” (Língua Morta, 2014) apresenta 7 contos com nomes de mulheres – Tota, Hanna, Jasmine, Ivanna, Martina, Mel e Filipa, mas não existe voz ou universo femininos. o narrador e jovem herói destes contos dá-nos o tom completamente masculino do livro e as mulheres não existem para nós senão sob o seu olhar e a sua narração: ele procura a mulher.
Na noite islandesa, tendo como referência sempre o mesmo bar, bêbedo, encontra mulheres bêbedas ou drogadas ou prostitutas, ou perdidas e desencontradas; procura sexo. Numa deriva procura o que não é achável, e por isso tem de continuar, expõe-se na sua busca desenfreada e afunda-se na decadência que o atrai sem que ele ofereça resistência. Bebe muito e vai à caça, é um predador desorientado mas com obsessões, que talvez não deseje acabar bem. Numa loja de roupa em Londres, num hospital em Lisboa…, nada aqui é bonito ou subjectivo ou muito psicológico ou com adereços e maquilhagem. Este livro tem género, é do género masculino, duro e sozinho, dado à perdição, mas sem pacto com o Mal ou a maldade, tem mesmo alguma bonomia ou doçura. Apesar da sordidez do que se conta e encontra, a dureza não está no coração deste viciado protagonista.
A surpresa é que o escritor pertence a uma época em que a escrita se tornou muito feminina, mesmo nos homens, a escrita viril parece quase desaparecida. Frederico Pedreira não tem a preocupação de um discurso sexualmente correcto ou sexualmente poético, tal como não existia em Henry Miller. Rude mas quase suave.
A última história é de amor, um homem que se destrói emocionalmente com o amor por uma toxicodependente, que enquanto tal já não é bem uma mulher. O livro acaba assim, com a ideia de que o amor é mais destrutivo que o sexo. Um homem está mais em casa com o segundo, enquanto o amor é um território estranho. Bárbaro.
Sente-se no fundo destes contos qualquer sabor à escrita de A. Lobo Antunes, com menos ironia e menos melancolia. “Um Bárbaro em Casa” abre a curiosidade sobre os poemas de Frederico Pedreira, que tem já 3 livros de poesia publicados.
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