A qualidade e sucesso do policial nórdico é já uma constante no nosso quotidiano literário mas, a par desta constatação, esbarramos agora num outro fenómeno: a autoria da escrita em dueto. Esta parceria oferece algum entretém ao nosso pensamento: Como é que se consegue? Como é possível dividir o processo critativo? Por capítulo? Por personagem? Adiante…
A dupla Roslund e Hellstrom conseguiu, com “Três segundos” (Editorial Planeta, 2014), o reconhecimento do público (mais uma vez), mas também o da sua qualidade literária no género policial, através da atribuição do prémio de melhor policial sueco.
“Três segundos” é um thriller em alta voltagem, onde o principal cenário é uma prisão de alta segurança sueca, um mundo interdito, estranho e desconhecido. O detective Ewent Grens é o elemento comum aos anteriores argumentos, que aqui acompanhamos em dois níveis: o da investigação de um homicidio e, também, na evolução que se processa no seu interior mortificado. Digamos que é um conservador com linhas bem definidas, impermeável às novas tendências da intervenção ao combate ao crime.
Piet Hoffman, que nos é apresentado primeiro num contexto algo confuso da máfia polaca e dos agentes infiltrados, é um dos heróis que baloiça entre os dois lados: crime e contra-crime. Num ambiente de acessibilidade intransponível vamos vendo, dentro e fora dos muros, os vários intervenientes caminhando nos limites entre o bem e o mal, a lei e o crime, as vitímas e os infractores, o poder.
Vamos avançando dentro dos sistema prisional e de justiça em bom ritmo thrilleriano, até esbarrarmos num dilema moral ao mais alto nível Kolhberguiano: que meios justificam os fins? É possível ou desejável contornar a lei e as normas instituídas em nome de um bem maior? Mas, enquanto nos ocupamos com este dilema, verificamos que o gene egoísta, mais popularmente conhecido como “salvar a pele”, prevalece numa boa percentagem da população, sobrepondo-se aos mais altos interesses e compromissos em nome de um bem comum.
Para além do prazer de uma boa leitura com suspense e ritmada, “Três segundos” oferece a possibildade de observar a dificuldade que há em estabelecer um limite estático entre o bem e o mal, entre as vítimas e os agressores.
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