A Devir continua em recta de ascensão na publicação de BD, voltando-se agora, novamente, para o continente norte-americano com este “The Umbrella Academy: Suite do Apocalipse” (Devir, 2015), um livro que marca a estreia de Gerard Way – vocalista dos My Chemical Romance – na Banda-Desenhada. Way tem um percurso académico ligado às belas-artes, mas foi através da música que o seu nome se internacionalizou. Felizmente a paixão pela BD nunca esmoreceu e, com o apoio de Scott Allie, editor da Dark Horse, os primeiros esboços de “The Umbrella Academy” nasceram.
Para dar vida às ideias de Way, juntou-se ao projecto Gabriel Bá, um nome já com provas bem dadas nesta arte. Bá, juntamente com o seu irmão gémeo Fábio Moon, é um autor de BD brasileiro, cujo trabalho conquistou o mercado norte-americano, no qual tem vindo a trabalhar maioritariamente. Apesar do seu reconhecimento, este projecto acabaria por funcionar, também, como uma espécie de estreia para Gabriel Bá, uma vez que o autor não costuma trabalhar dentro do género americano mais popular: o dos Super-Heróis. “The Umbrella Academy” seria assim uma nova plataforma que poderia dar a conhecer o trabalho de Bá a um público mais vasto, o que eventualmente provou ser uma previsão certeira.
Este “The Umbrella Academy” faz parte de toda uma nova abordagem ao género dos Super-Heróis, uma que foge aos grandes arquétipos e concessões criadas, maioritariamente, pelas grandes editoras – a DC Comics e a Marvel. Para todos os efeitos, estamos perante uma nova vaga de Super-Heróis, que surgiu mais fortemente no final dos anos 90 com trabalhos como “The Invisibles” (Vertigo) de Grant Morrison, “Top 10” (America’s Best Comics) de Alan Moore ou The Authority” (WildStorm) e “Planetary” (WildStorm) de Warren Ellis, para citar alguns exemplos. Nas palavras de Morrison, assumido admirador do trabalho de Gerard Way, “The Umbrella Academy” são os “X-Men do séc. XXI”!
A realidade apresentada pelos autores é uma alternativa à nossa, onde alienígenas convivem com humanos na Terra, Chimpanzés falantes trabalham ao nosso lado e o presidente John F. Kennedy nunca foi assassinado. É nesta amálgama que tudo começa, mais especificamente em meados do séc. XX, com o nascimento inesperado de 43 bebés. Foram 43 nascimentos sem qualquer ligação entre eles, excepto no “simples” facto de se tratar de 43 crianças com poderes, nascidas de mulheres que não apresentavam sinais de gravidez. Um mistério ainda não respondido, mas que dá vida aos sete protagonistas da história, sete crianças magníficas que foram os únicos sobreviventes dos 43 misteriosos nascimentos.
Os sete bebés, apesar de terem nascido de mulheres diferentes, acabaram por ficar juntos ao serem adoptados por Sir Reginald Hargreeves, um alienígena mascarado de humano que privilegia o cognome “O Monóculo”. Para o Monóculo estas crianças, quais messias na Terra, vão ser essenciais para salvar o mundo no futuro, daí a importância de as reunir e educar. Eventualmente as crianças tornaram-se adultos e o mundo continuou a girar em torno de si próprio, o que fez com que cada personagem tivesse seguido o seu rumo individual. “Suite do Apocalipse” marca precisamente a reunião destas personagens, as quais, antes de sobreviverem ao Apocalipse, vão ter de aprender a sobreviver uns aos outros.
Além da componente de aventura, Way nunca se esquece da familiar. Antes de serem uma equipa de Super-Heróis são uma família, e é nessa dinâmica disfuncional que se encontra a verdadeira história de “The Umbrella Academy: Suite do Apocalipse”. Todas apresentam personalidades bem vincadas e desenvolvidas, aspectos que Way nunca descurou neste trabalho – podemos lê-las pela primeira vez que sentimos estar perante personagens vivas com um presente e um passado bem definidos. É nesta tri-dimensionalidade que o autor consegue criar um trabalho verdadeiramente cativante, uma vez que não existem grandes histórias sem grandes personagens.
Apesar desta nova vaga de Super-Heróis – da qual “The Umbrella Academy” faz parte – ser dirigida a um público mais adulto, Way e Bá nunca se esquecem de um factor que faz parte intrínseca do ADN deste género: a diversão. Podemos estar perante uma história que joga numa atmosfera mais negra e violenta, mas o humor é sempre uma constante, existindo aqui uma clara noção do que costuma ser quixotesco neste tipo de aventuras. O traço de Bá, muito bem apoiado pelas cores de Dave Stewart, dá uma vida fantástica a esta amálgama de gore e diversão. Nota-se bem a atenção que o desenhador deu às características de cada personagem quando as desenhou. A linguagem corporal de cada uma espelha perfeitamente a respectiva postura que apresentam na vida. Uma grande aventura que tem assim a merecida edição no nosso país. Resta agora esperar pelo segundo – e até à data último – volume desta colecção. Que chegue o quanto antes.
1 Commentário
[…] – The Umbrella Academy: Suite do Apocalipse – Gerard Way, Gabriel Sá e Dave Stewart – Deus me Livro; […]
https://acrisalves.wordpress.com/2016/02/02/janeiro-de-2016/